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Campanice © Renato Cruz Santos
A gestão de espaços de arte pela mão dos próprios artistas não é um formato novo, mas tem ganho cada vez mais terreno por todo o mundo. O trabalho operacional de conseguir, manter e divulgar um espaço tem como retorno a maior autonomia em relação a espaços institucionais ou comerciais, garantindo mais liberdade a quem cria. O Porto, que nunca teve tantos espaços artísticos informais e independentes como os que tem hoje, não é exceção. Ao todo, existem cerca de uma centena de espaços autogeridos por artistas de diferentes áreas – pintores, escultores, designers, músicos, cineastas e fotógrafos.
Estes espaços têm vindo a crescer sobretudo nas zonas do Bonfim e Campanhã, onde as rendas são mais acessíveis. Os esforços para mapear estes novos espaços surgem no formato de roteiros, como o Perímetro, no Bonfim, ou, à escala da cidade, o projeto Campos Magnéticos. A propósito do Circuitos’24, uma iniciativa do Departamento de Arte Contemporânea da Ágora, que vai percorrer muitos desses espaços, a Agenda Porto foi conhecer cinco deles: a plataforma Asterisco, o Sismógrafo, o coletivo Campanice, o AL859 e a Caldeiraria.
São precisas duas mãos para contar os artistas que integram este coletivo que se reúne informalmente, desde 2016, num espaço de estúdio partilhado, e que se caracteriza, “sobretudo, pelos trabalhos autónomos e diferentes linguagens”, mas com “pontos de contacto e afinidades que se vão estabelecendo através da amizade e convivência”. Falámos com quatro deles: Carolina Grilo Santos, Carlos Mensil, Diana Geiroto e Paulo Mariz. “Um grupo de amigos juntou-se para ter um espaço de ateliê um bocadinho mais digno, mais amplo. Com o passar dos anos fomos falando entre nós de fazer qualquer coisa, não verdadeiramente como coletivo, porque não somos um coletivo no sentido de desenvolver alguma coisa em conjunto, mas pomos energia em conjunto em muitas coisas”, resume Carlos Mensil.
O nome do coletivo Campanice (deve pronunciar-se “campanaice”, do inglês nice, “fixe”) tem origem na freguesia que o viu nascer. O coletivo começou por se instalar em Campanhã quando ali havia apenas dois espaços ligados às artes: o Espaço Campanhã e o Espaço Mira. Conseguiram encontrar um ateliê no armazém vazio do Clube Desportivo de Portugal porque “a zona ainda não estava muito explorada”, mas já havia “projetos para o surgimento de mais espaços [ligados às artes]”. “Sabíamos que, mais tarde ou mais cedo, ‘aquilo’ nos ia engolir, íamos ter de sair de lá, e foi o que aconteceu. Não só nós, mas o próprio clube estava na iminência de deixar aquele edifício”, conta Carlos.
Diana Geiroto, Paulo Mariz, Carolina Grilo Santos e Carlos Mensil © Renato Cruz Santos
Depois de muito procurarem, encontraram o novo espaço em Anselmo Braancamp em plena pandemia. “Foi uma sorte”, desabafam. O novo estúdio permitiu-lhes criar uma programação paralela, através da sua montra para o exterior, enquanto preservava o espaço de trabalho no interior.
© Renato Cruz Santos
Duas vezes por ano, por altura dos equinócios da primavera e do outono, são organizados os Open Studios (estúdios abertos), com trabalhos dos artistas do coletivo, em que as portas se abrem para curiosos, sejam amigos ou estranhos. “Não tem necessariamente que ser uma exposição; a ideia era ser um momento leve, onde as coisas falham”, afirma Carlos. “Alguns vão mostrar algum trabalho, alguns vão aproveitar para fazer alguns testes, mas não vamos esvaziar o espaço e torná-lo numa sala de exposições; este sítio é híbrido, acrescenta Diana Geiroto.
Paulo Mariz recorda o último Open Studio, em que nenhum dos elementos do coletivo apresentou trabalhos porque tinha uma exposição em Madrid, e convidou dez artistas para ocuparem o espaço. “O facto de termos convidado artistas para, durante uma semana, pensarem em como ocupar o nosso espaço trouxe uma dinâmica diferente, com pessoas diferentes.”
Além dos Open Studios, acontece, de dois em dois meses, a Linha Amarela, que resulta do desafio lançado “a novos artistas e novas colaborações” para ocupar a montra voltada para a rua com novas propostas artísticas. “É um projeto delimitado por uma linha amarela que define uma área em torno à vitrine principal, que viaja desde a linha de proibição de estacionamento que dali se vê”, e que conta com o apoio da Junta de Freguesia do Bonfim. Atualmente, quem passar pelo estúdio Campanice pode descobrir a proposta da artista Dalila Gonçalves, intitulada “Gralha”, inaugurada no final de setembro, e que, a partir de 23 de novembro, dará lugar a uma nova peça do artista Fernando Travassos.
“Programamos de forma informal, mas de repente passam-se dois anos e também há, de certa forma, alguma responsabilidade, também temos de ter um pensamento sobre o que estamos a mostrar; e faz mais sentido dar oportunidade a artistas que não têm tanta oportunidade de expor”, sustenta Paulo Mariz.
© Renato Cruz Santos
“Sabe bem convidar alguém que lida com o nosso espaço de forma muito diferente, que está cá durante duas ou três semanas a trabalhar connosco para pensar qualquer coisa especificamente para a montra”, sustenta. “Programar desta forma tem esse lado informal e tranquilo o suficiente para não mexer demasiado com o nosso espaço, e podermos continuar a trabalhar, mas ao mesmo tempo temos outras contaminações”, defende Diana.
“Muitas vezes a amizade é o motor das coisas. A forma como este grupo se ergueu tem muito que ver com essas afinidades, e depois essas relações com os espaços de fora acaba por ser um bocadinho por aí, também”, refere Carolina Grilo Santos. No entanto, Diana alerta para a facilidade com que se criam “circuitos fechados”. “Na verdade, existem mais circuitos. Há espaços que eu própria não conheço tão bem, e há malta que também vai a dois ou três espaços e não vem a este, mas vamo-nos conhecendo”, assegura.
© Rui Meireles
Sediada, desde dezembro do ano passado, na rua dos Caldeireiros, em pleno centro histórico do Porto, a Caldeiraria é uma galeria gerida pela artista plástica Ema Pina, dedicada à promoção de diferentes práticas artísticas. Através de exposições e tertúlias, este espaço quer contribuir para a dinamização do tecido cultural e “gerar sinergias entre diferentes áreas do saber e do fazer”.
Natural do Porto, Ema Pina formou-se em Economia, e chegou a trabalhar na área, mas rapidamente percebeu que as Artes é que a faziam feliz. Foi para Londres estudar Artes Plásticas, especializou-se em Pintura, abriu um estúdio e ficou por lá cerca de 12 anos, até que, em 2022, decidiu regressar a casa. Com um estúdio em Alfena, Ema estava à procura de um espaço na cidade para expor os seus trabalhos até que alguém lhe indicou o rés-do-chão edifício da Confraria da Nossa Senhora da Silva. O presidente da Confraria, o arquiteto Joaquim Massena, desafiou-a não só a expor, mas também a transformar aquele espaço num “espaço dedicado às artes”.
“Este é um edifício histórico, administrado por ferreiros e caldeireiros da cidade, que aqui se instalaram desde o século XV. Já foi um hospital, já foi uma albergaria, e a Confraria queria abrir as suas portas, para dinamizá-lo”, conta. O espaço foi-lhe cedido gratuitamente e Ema achou, por isso, que “fazia muito mais sentido, do que ter ali as suas obras, abri-lo a outros artistas sem custos associados”.
Desde que abriu portas no final de 2023, têm passado pela Caldeiraria “artistas emergentes, que ainda não têm um percurso muito longo nas artes, uns com mais ou menos visibilidade, mas para quem o expor no centro da cidade é um momento importante, relevante, que os marca; seja porque têm um conjunto de trabalhos que ainda não tiveram oportunidade de expor, seja porque também aí encontram a motivação de continuarem a produzir e terem um espaço onde mostrar”, conta.
“Fazer a diferença” para os artistas que ali expõem tem sido a grande preocupação da diretora artística. Apesar de o espaço ser cedido sem custos, existem sempre custos associados, nomeadamente o transporte e a montagem das obras, bem como a própria promoção e comunicação das exposições, por isso a galeria tem acolhido artistas locais ou a residir no Porto.
Ema Pina, © Rui Meireles
“Apesar de os artistas que aqui já expuseram terem práticas diversas, desde a cerâmica, o uso das pedras em têxtil, todos têm trabalhos ligados à questão da vitalidade da matéria, da materialidade, da agência das entidades ou dos corpos não humanos, além dos humanos, a ideia de um sujeito coletivo, não só centralizado no humano”, afirma diretora artística.
© Rui Meireles
Desde o dia 26 de outubro e até ao final de novembro está patente a exposição “No Pássaro Todo o Corpo é Mão”, da artista Gabriela Barbosa. Antes, passaram pela Caldeiraria nomes emergentes como Maíra Mafra, Angelina Nogueira, Inês Mendes e a Rita Castanheira. A seleção dos artistas acaba “por ter que ver com a sua sensibilidade e com a forma como se identifica com os trabalhos”.
Apesar de a maioria dos espaços artísticos autogeridos se situarem em zonas mais periféricas da cidade, Ema lembra a “boa vizinhança” da Caldeiraria: “Temos aqui, na rua dos Caldeireiros, o projeto Uma Certa Falta de Coerência; na rua dos Clérigos, temos o INSTITUTO, e na rua do Almada, um pouco mais afastada, temos a Galeria Dentro.” Neste sentido, diz que gostaria que surgissem parcerias entre os vários espaços. “As parcerias tornam-nos mais fortes porque os públicos de uns espaços vão aos outros e vice-versa e colmatam-se diferentes interesses.”
Por estar situada no centro do Porto, a galeria recebe um público diversificado, sendo visitada por muitos turistas que vão lá ter, “mesmo desconhecendo, por vezes, que se trata de uma galeria, e apreciam”. Depois há os vizinhos, os locais, “os senhores idosos que gostam de cá vir”, refere.
Além das exposições, Ema preocupa-se em assegurar que há sempre “um momento de conversa com o público, ou uma visita guiada” em que o público e o artista interagem. Para o futuro, a diretora artística da Caldeiraria pretende promover oficinas com os artistas. “Conseguimos trabalhar outras coisas, passar a mensagem de outra maneira, e há pessoas que também preferem um tipo de atividade mais prática.”
© Rui Meireles
Aura e Hugo Veiga, © Andreia Merca
É na rua de Pinto Bessa que está sediada a Asterico, uma plataforma artística criada, em março de 2023, por Aura e Hugo Veiga, com o intuito de apoiar sobretudo artistas emergentes e de minorias sociais, mas também “trabalhos em processo”.
O nome da plataforma deve-se ao livro Trans*, de Jack Halberstam. O autor refere que “colocar o asterisco a seguir à palavra trans é como um espectro que se abre a outras possibilidades e a que se vai adicionando coisas, como uma nota de rodapé”, conta Aura. “Acho que a própria forma do asterisco une vários pontos e cruza-os no mesmo sítio; para nós, fez sentido cruzar diferentes pontos disciplinares, entre as diferentes artes, mas também as pessoas de diferentes backgrounds” que são convidadas, defende.
Ela, artista transdisciplinar, ele, arquiteto, há dois anos tiveram o sonho de criar “uma casa-ateliê” e encontraram ali o local ideal. Foi “uma espécie de milagre pós-pandemia”, brinca Hugo. Redesenharam o espaço para ser híbrido, abrindo-o à comunidade local. “Queríamos um espaço que não fosse só a nossa casa, mas também que pudéssemos abrir à comunidade e pudesse acolher eventos artísticos.”
Durante um ano, estiveram a renovar o espaço e a procurar financiamento para a programação. Conseguiram “um pequeno financiamento” da DGArtes que permitiu pagar os artistas que integraram a primeira Temporada, que decorreu entre julho de 2023 e junho de 2024, com uma programação regular, e que consiste em que, uma vez por mês, “artistas a solo, duos e coletivos partilham o seu trabalho num ambiente seguro e informal”, tendo incluído exposições, performances, oficinas, uma feira de arte para angariação de fundos, concertos e DJ sets.
Um ponto alto da programação aconteceu no início de julho com a primeira edição do Festival Asterisco, que contou com a participação de oito artistas performativos, através de espetáculos, uma conversa, um jantar-convívio, uma festa e uma oficina em parceria com outros espaços. “O festival abriu com uma conversa, e as conversas acabam por acontecer informalmente em todos os eventos que fazemos, porque queremos que os nossos eventos sejam um ponto de encontro dos artistas com a comunidade que vem aos eventos”, afirma Hugo.
© Andreia Merca
“A ideia não é mostrar um trabalho finalizado, pristino, mas mostrar um processo. Aquelas coisas que podem ser difíceis de apresentar noutros espaços, mas têm aqui esse espaço para experimentar e arriscar.”
© Andreia Merca
Sobre a programação regular que desenharam, Aura afirma que “foram criando um puzzle que conseguisse fundir artistas de diversas áreas, desde as artes visuais até às performativas, passando pela música e pelo cinema”, sendo que na próxima temporada vão dar destaque também à arquitetura. “Ao mesmo tempo, não queríamos que o foco fosse apenas em artistas LGBTQIA+, mas também em artistas racializados, imigrantes, e na primeira Temporada surgiram doze artistas para os quais conseguimos apoio”, acrescenta.
Sendo que a Asterisco tem como missão “desenvolver práticas de criação e programação sustentáveis em comunidade e partilhar recursos e conhecimento”, têm acontecido sinergias e colaborações com outros espaços vizinhos, nomeadamente, aquando do Festival Asterisco, com a Central Elétrica e a Circolando, os Palmilha Dentada, o PAZ — Performance Arts Zone, e a Junta de Freguesia do Bonfim. “Interessa-nos criar essa rede com espaços vizinhos. Embora estejamos perto do centro, já estamos na periferia”, sublinha Hugo, salientando, contudo, a existência naquele território de um “uma espécie de pequeno hub criativo”.
No evento deste mês da Temporada, que vai acontecer dia 16, durante o Circuitos’24, Aura e Hugo propõem-nos revisitar a vida e a obra de Mário Calixto (1960-96), através do projeto Confluências, de Wura Moraes. “A artista faz uma espécie de tributo ao seu pai, Mário Calixto, bailarino brasileiro que viveu e trabalhou em Portugal durante vários anos, e traz-nos duas curtas-metragens que vamos projetar e depois há uma conversa em torno do trabalho do Calixto”, adianta Aura.
É no número 859 da rua da Alegria que encontramos o AL859, um espaço de arte independente e informal, criado em 2019, que acolhe exposições e oficinas, mas também concertos e espetáculos de teatro, e é a sede da associação cultural Ars Longa Vita Brevis (A arte é longa, a vida é breve), tradução latina do primeiro aforismo de Hipócrates. “Até o nome é complicado. Ninguém decora Ars Longa Vita Brevis!”, diz, a rir, Carlos Freitas, presidente da associação. O AL no nome do espaço é uma provocação por ter nascido na mesma altura do boom dos alojamentos locais.
Carlos guia-nos pelo espaço de dois pisos, que inclui uma sala ampla com seis ateliês e um agradável pátio exterior por onde se passeia tranquilamente o gato dos vizinhos. Filho de portugueses de Fafe e de Miranda do Douro, nasceu na África do Sul, viveu mais de uma década no Brasil e há 35 anos “assentou arraiais” na cidade do Porto.
© Andreia Merca
Carlos Freitas© Andreia Merca
Eletricista de profissão, é ele quem tem feito a maioria das intervenções no AL859 onde a artista plástica Tatiana Moes, sua esposa, montou o seu ateliê. Foi através de Tatiana que percebeu que os artistas “precisam de um espaço para trabalhar, conviver, partilhar ideias e experiências”. Por isso, quando encontrou aquele espaço, decidiu investir.
Carlos sublinha que o AL859 pretende, sobretudo, abrir as portas a artistas emergentes, dando-lhes “a oportunidade de realizarem a primeira exposição”. Neste sentido, tem sido procurado por estudantes de Belas Artes para acolher a exposição final de curso ou de defesa de mestrado.
Até 9 de novembro é possível visitar a exposição Kriminal dedicada ao graffiti, com uma mostra de composições, telas, fotografia, vídeo e filme de três artistas. Também este mês, durante o Circuitos’24, vai estar patente uma exposição coletiva dos seis artistas residentes. Atualmente, no piso inferior, decorrem, às terças-feiras, aulas de teatro com a atriz Bárbara Machado, que descobriu o espaço graças a um espetáculo da companhia de teatro Musgo que aconteceu ali.
Quanto aos planos para o futuro, o presidente da Ars Longa Vita Brevis afirma que quer continuar a fazer intervenções no espaço para que “seja possível ajudar mais o pessoal da música e do teatro”. “Já tenho isso estudado, só me falta mais dinheiro para fazer as obras”, diz com otimismo. Promover mais workshops e oficinas de pintura e de desenho é também uma das apostas para os próximos tempos. Para já, o AL859 não conta com apoios públicos; o valor das rendas dos ateliês permite manter o espaço e pagar as contas.
© Andreia Merca
Rita Senra e Pedro Huet © Rui Meireles
É num dia de chuva que visitamos o Sismógrafo, na rua do Heroísmo, onde está sediado desde julho do ano passado. É a terceira morada desta galeria de arte que conta já com dez anos e é gerida por uma equipa de nove pessoas, que tem por trás a associação cultural Salto no Vazio. A porta está fechada por força da chuva; caso contrário, a ‘boca’ deste espaço estaria aberta, escancarada à cidade. Mal chegamos, o Bife, uma espécie de mascote do espaço, corre a dar-nos as boas-vindas. À nossa espera estão Rita Senra e Pedro Huet, artistas plásticos e responsáveis na galeria pela produção e montagem de exposições e instalações.
Ao longo dos dez anos de existência do Sismógrafo, o tecido artístico da cidade “mudou bastante”. “Para mim, há uma distinção muito grande entre estes circuitos que estão mais localizados aqui, na zona do Bonfim, e os de Miguel Bombarda, que são, sobretudo, circuitos comerciais”, afirma Rita. “Deste lado da cidade, talvez pelo facto de existir a Faculdade de Belas Artes, e também por ser a zona mais acessível em termos de rendas, foram acontecendo estes espaços de cooperação entre artistas; são espaços alternativos, autogeridos.”
A artista acrescenta que “é bastante evidente que nos últimos três anos tem havido uma energia de cooperação contínua” entre espaços. Desde o empréstimo de materiais e da marcação de inaugurações para a mesma data, passando por “ajudas na procura de apoios financeiros”.
Rita refere, ainda, que “houve uma mudança, ainda que muito frágil” no que respeita aos apoios públicos, “muito por causa do programa de apoio Criatório”. “Há uma maior programação desde que o Criatório começou a acontecer”, afirma.
Contudo, Pedro Huet salienta que “numa altura em que as rendas são tão altas e a gentrificação é tão acelerada nesta cidade, as pessoas têm maior tendência também para ter de recorrer a apoios para poder ter estes espaços”.
© Rui Meireles
© Rui Meireles
“Se há uns anos conseguíamos ter uma ateliê minimamente decente e nesse ateliê conseguir ter uma sala que pudesse ser um espaço autogerido por artistas, hoje em dia isso já quase não é possível”, lamenta.
Além de funcionar como galeria, o Sismógrafo é também o espaço de trabalho de alguns dos membros desta equipa, “que vêm de diferentes áreas e disciplinas artísticas”, e que tem vindo também a mudar ao longo dos anos.
O Sismógrafo surgiu numa altura “em que no Porto tinha deixado de haver tantos espaços independentes; continuava a haver um ou outro, mas tinha havido uma série deles que tinham fechado uns anos antes, e um grupo de pessoas juntou-se precisamente porque sentiu que fazia falta um espaço que pudesse ter uma programação de artistas nacionais e internacionais, jovens e mais consagrados, e que pudesse fazer esse cruzamento numa lógica não comercial”, conta Pedro Huet.
“Esta é uma das principais bandeiras que nos acompanha até hoje: tornar a arte acessível a todos, não só em termos económicos, mas também discursivos.”
“Uma das bandeiras” do Sismógrafo, desde o seu início, é “o seu usufruto totalmente gratuito”. “Houve sempre um horário de abertura fixo, independentemente de termos apoios ou não; até 2017, trabalhámos sempre sem qualquer tipo de apoio, mas toda a gente fazia este trabalho por amor à camisola e com o que podia", sublinha Rita.
Neste sentido, a artista defende que a mudança para o novo espaço “tem sido determinante”. “Tem sido muito bom de ver como é que a arquitetura do espaço tem mesmo um impacto na relação com as pessoas”, diz, satisfeita.
O Sismógrafo tem um programa público em que todas as exposições contam com workshops não só para público geral, mas também para escolas. Desde o ano passado, estabeleceram uma parceria com a Junta de Freguesia do Bonfim, que “tem sido um canal muito importante”. Neste sentido, Rita recorda um workshop feito pela artista Patrícia Geraldes para um lar de idosos, vizinho da rua, “com senhores e senhoras de mobilidade muito reduzida”.
© Rui Meireles
“Programamos de forma coletiva, as propostas vão surgindo de forma espontânea e depois há uma votação”, adianta Rita, acrescentando que “escolhem os objetos artísticos pelos quais têm interesse e depois é que pensam sobre eles”. Esta metodologia leva a que se manifestem “de forma política muito mais evidente”, como foi o caso da apresentação da obra fílmica da artista palestiniana Jumana Manna. “Acho que o programa, na generalidade, acaba por refletir muito sobre o estado atual do mundo e com uma dimensão política”, concretiza Pedro Huet.
por Gina Macedo
© Rui Meireles
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