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O festival de cinema documental Porto/Post/Doc está de regresso de 22 a 30 de novembro com uma programação de filmes, conversas e masterclasses que convidam o público a refletir sobre o papel da Europa no mundo atual.
A Europa não existe, eu estive lá é o tema da 11.ª edição. "É uma provocação", diz Dario Oliveira, diretor artístico do festival. "Vivemos numa região que enfrenta desafios como a explosão demográfica, injustiças políticas e guerras próximas. A Europa já não é o que era. A sua economia desmoronou-se, e a sociedade está cada vez mais injusta."
Para contrariar este movimento de ‘exclusão’ este festival quer “criar um espaço de reflexão, onde todos possam participar". As conversas antes e depois dos filmes são uma oportunidade para pensar e discutir estes assuntos. “O impacto das imagens de guerra e violência que nos chegam, muitas vezes de forma banalizada pelos media, fazem com que o medo e a instabilidade se instalem, sobretudo nos mais novos”, afirma Dario, acrescentando que "é necessário encontrar novas maneiras de olhar para essas realidades e desenvolver um pensamento mais livre e informado".
Nesta edição, o festival selecionou seis filmes que exploram “as raízes da Europa”. Entre eles, um filme grego que revisita a origem da civilização, e outro, sobre o povo romani, que destaca a exclusão dos ciganos na sociedade europeia. Com esta programação, pretende-se que este festival seja um lugar de descoberta. “São filmes de autor, com uma reflexão pessoal e acima de tudo são filmes que anunciaram no seu tempo aquilo que a Europa é agora. Foram visionários.”, remata.
Dario Oliveira, diretor artístico do festival © Rui Meireles
Ampliando horizontes
Dario sublinha ainda a importância de expandir o festival para os subúrbios, onde muitos dos seus habituais espectadores passaram a viver. "O nosso objetivo para os próximos anos é chegar a estas áreas e continuar a desenvolver novos públicos", afirma, apontando as escolas e universidades como peças fundamentais deste trabalho. No entanto, reconhece que a crescente oferta de festivais exige uma constante renovação.
Quando questionado sobre o significado do Porto/Post/Doc, Dario é categórico: "É um festival que fazia falta ao Porto." Após uma tentativa inicial com o nome "Odisseia nas Imagens", em 2001, interrompida por questões políticas, o festival renasceu com o apoio do atual presidente do município Rui Moreira e de Paulo Cunha e Silva, permitindo, finalmente, “a liberdade de pensamento e ação” que o caracterizam.
A aposta do festival é clara: o documentário é o centro da programação, embora também haja espaço para ficção e cinema experimental. Além disso, o Porto/Post/Doc não se limita à exibição de filmes. Durante três dias, acolhe cerca de 200 profissionais da indústria cinematográfica, incluindo produtores, distribuidores e exibidores, criando oportunidades vitais para o novo cinema português
Latcho Drom, documentário de Tony Gatlif © DR
Destaques da programação
A 11.ª edição do festival arranca com o filme Apocalipse nos Trópicos, da realizadora brasileira Petra Costa, que aborda o impacto das religiões evangélicas na política do Brasil. Dario considera este filme especialmente relevante, alertando para os perigos de grupos religiosos organizados que estão a ganhar influência também em Portugal. "É um filme necessário e um excelente ponto de partida para a viagem que faremos pela Europa."
Dentre os filmes destacados por Dario, estão também A Paixão de Joana D'Arc, de Carl Dreyer, com acompanhamento musical ao vivo pelo compositor Alex FX, e Latcho Drom, um documentário de Tony Gatlif sobre a jornada do povo romani desde o Rajastão até Espanha. "É um filme musical que todos deviam ver", recomenda Dario.
Olhar para o futuro
Dario faz uma reflexão sobre o distanciamento dos mais jovens em relação ao cinema, especialmente o cinema documental, e a importância de os educar para apreciar esta forma de arte. "A resistência ao cinema resulta, muitas vezes, da falta de sensibilização e orientação, mas quando trazemos os jovens para a sala de cinema a reação é mágica", afirma.
O festival tem uma forte componente educativa que se reflete na programação deste ano. “É uma forma de chegarmos também aos mais novos e eles verem-se ao espelho e conhecerem como é crescer noutro país, verem histórias documentais, como é o exemplo de um filme realizado na fronteira da Ucrânia com a Rússia. Este tipo de aproximação àquilo que é a vida dos mais novos noutros lugares, acho que é uma forma de educar para o respeito pela diferença, pela integração. Isso é que é a Europa.”
Sobre o futuro do festival, Dario é otimista. "Nos próximos 10 anos, teremos de nos adaptar, mas o cinema documental continuará a ser essencial para nos dar um olhar contemporâneo sobre o mundo."
De 22 a 30 de novembro o Batalha Centro de Cinema, o Passos Manuel, o Planetário do Porto e a Casa Comum acolhem esta edição do festival. Toda a programação em portopostdoc.com.
por Maria Bastos
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