É no encontro entre a Rua da Alegria e a Rua D. João IV que se ergue o Edifício Miradouro. No topo de uma colina, e projetando-se para o céu sem competição do edificado que o rodeia, é um elemento que define a paisagem do Porto. Construído, entre 1962 e 1969, pela centenária Cooperativa dos Pedreiros Portuenses, que continua a ser a dona do edifício, e projetado pelo casal de arquitetos Maria José Marques da Silva e de David Moreira da Silva, tinha em vista uma vertente social: o valor proveniente das rendas servir para assegurar as pensões dos operários que, em caso de doença ou falecimento, seriam entregues às viúvas.

O Edifício Miradouro, onde também funciona um hotel, foi esculpido, com primor, com granito polido, e a icónica fachada é revestida de azulejos amarelos em cujo padrão figuram as ferramentas de trabalho da pedra – o macete e o escopro. No topo da torre, no 14.º andar, resistiu o Portucale, um restaurante clássico, em tempos distinguido com uma estrela Michelin (entre 1974 e 1980), e detentor de uma das melhores vistas panorâmicas da cidade. Os pisos térreos estão reservados a espaços comerciais, e na zona envolvente, nas antigas oficinas da Cooperativa dos Pedreiros, funciona, desde 2018, a Galeria Nuno Centeno.

Exemplo vivo da era modernista e pós-modernista em Portugal, uma visita ao Edifício Miradouro é uma autêntica viagem no tempo. Com acabamentos e pormenores de uma época dourada do design – entre candeeiros space age, mobílias de madeira e materiais de cores vibrantes, os espaços interiores do hotel (onde ainda podemos encontrar, por exemplo, cabines telefónicas) levam-no a ser um local muito cobiçado para a gravação de videoclipes e editoriais de moda.