PT
Foi apenas a 26 de abril de 1974 que os militares chegaram ao edifício que faz esquina entre a Rua do Heroísmo e o Largo Soares dos Reis, onde funcionava a delegação da PIDE no Porto, para libertar os últimos presos políticos. O “último dos últimos” foi Jorge Carvalho, conhecido por “Pisco”, que apenas foi libertado à tarde. Recuamos até esse dia através das memórias de Maria José Ribeiro, cofundadora do Movimento Democrático das Mulheres e uma conhecedora daquele edifício – esteve presa três vezes. Aos 88 anos, é uma guardadora da memória e membro ativo da União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP).
Subimos as escadas do edifício que hoje alberga o Museu Militar do Porto e fazemos o mesmo percurso que os presos políticos faziam até às salas de interrogatório e tortura. É aqui que está instalado o projeto “Do Heroísmo à Firmeza – percursos na memória da casa da PIDE no Porto (1934/1974)” e é onde Maria José nos mostra algumas fotografias do momento da libertação dos presos quando uma multidão já cercava o edifício: “Foi uma alegria muito grande. À hora do almoço vim para aqui com colegas ver se os presos já tinham saído. Alguns tinham sido levados na noite anterior para Caxias, à socapa. O último foi o Jorge Carvalho, que tinha sobre ele um processo de delito comum porque os PIDEs quando o foram bater, ele reagiu. Dizem que mordeu a mão de um PIDE, bem-aventurado!”, atira, a rir.
26 de abril 1976: Uma multidão aguarda a libertação dos presos políticos fora da antiga sede da PIDE no Porto © Andreia Merca
Fotografias cedidas à URAP por Alfredo Vieira, um dos presos políticos libertados a 26 de abril de 1974 © DR
Maria José Ribeiro mostra uma fotografia de Virgínia Moura, opositora ao Estado Novo, presa 15 vezes, na antiga sede da PIDE do Porto a 26 de abril 1974 ©Andreia Merca
“Do Heroísmo à Firmeza”, da autoria do arquiteto e investigador Mário Mesquita e coordenado pela URAP, recria dentro da antiga prisão política o trajeto que milhares de pessoas fizeram naquele espaço durante a ditadura. “O objetivo é entender o percurso dos presos políticos, que passou pela caracterização destes espaços, desde o momento da entrada do preso, passando pelas celas e pelas salas de interrogatório e tortura”, conta o arquiteto. O futuro do projeto passa agora por alimentar este espaço com conteúdos museológicos e documentais sobre este “período negro” da História.
Núcleo "Do Heroísmo à Firmeza" no Museu Militar do Porto © Andreia Merca
Partilhar
FB
X
WA
LINK