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Festival literário acende a luz a Eugénio de Andrade
Feira do Livro do Porto
FLP 2024 - Festival literário acende a luz a Eugénio de Andrade

Eugénio de Andrade © Dario Gonçalves, 1985

Papéis de Eugénio de Andrade, Biblioteca Pública Municipal do Porto

A Feira do Livro do Porto, um dos eventos mais aguardados da cidade, está de volta aos jardins do Palácio de Cristal, até 8 de setembro, com 115 editoras, alfarrabistas e livreiros, distribuídos por 130 stands, uma programação “lucipotente”, como refere o “mestre de cerimónias” João Gesta, para celebrar a vida e a obra do poeta português Eugénio de Andrade. 


Mesas de debate e conversas com escritores, concertos ao fim da tarde, leituras encenadas, lançamentos de livros, sessões de spoken word, recitais de poesia e momentos de stand-up comedy e stand-up poetry compõem a programação da 11.ª edição da Feira do Livro do Porto, no seu formato renovado, que tem como mote o verso de Eugénio “Por mais solar que seja o coração", e que reflete a essência luminosa e amorosa da sua poesia. 

FLP 2024 - Festival literário acende a luz a Eugénio de Andrade

João Gesta © Nuno Miguel Coelho

FLP 2024 - Festival literário acende a luz a Eugénio de Andrade

Concerto Porta-Jazz na FLP 2024 © Nuno Miguel Coelho

Na linha da frente com João Gesta

Profundo conhecedor do Porto literário e dos seus poetas, João Gesta está à frente da programação da Feira do Livro há mais de uma década, evento a que se dedica de corpo e alma. Mal termina uma edição, o programador começa a trabalhar na edição seguinte. “É um processo absolutamente natural. Não é possível estar numa feira do livro com um pé dentro e outro fora; ou se está ou não está”, enfatiza. Durante 17 dias, a Avenida das Tílias passa a ser a sua casa, onde recebe poetas e amigos de todo o país. 


Depois de Sophia de Mello Breyner, Vasco Graça Moura, Ana Luísa Amaral e Manuel António Pina, é a vez de homenagear Eugénio de Andrade. Para Gesta, esta escolha não é apenas literária, mas também emocional. O poeta está "indissoluvelmente ligado a este Porto solidário e coriáceo, onde a palavra 'liberdade' é menos secreta”. “Eugénio de Andrade tem uma ligação profunda com o Porto, a sua obra reflete a alma da cidade, e homenageá-lo na Feira do Livro é uma forma de celebrar essa conexão”, afirma.


A programação deste ano inclui eventos dedicados ao poeta solar, como leituras, conversas e exposições. “Vão estar presentes amigos e visitas de casa de Eugénio: Inês Lourenço, Rosa Maria Martelo, André Tecedeiro, Pilar del Rio, Ana Monteiro, Álvaro Laborinho Lúcio, Dulce Maria Cardoso, Isabela Figueiredo, entre outros”, conta, acrescentando que “chegam figuras de todo o país”. “O conceito da Feira do Livro do Porto não é fechar-se sobre a cidade, é abrir-se a todos”, sublinha.

“O conceito da Feira do Livro do Porto não é fechar-se sobre a cidade, é abrir-se a todos.”

Na vertente literária, estão também confirmados Carlos Tê, Gonçalo M. Tavares, José Luís Peixoto, Minês Castanheira (a convidada desta edição da rubrica Conjugar o Porto), Nuno Artur Silva, Raquel Marinho, Rui Couceiro e Teresa Coutinho, sendo que, na vertente musical, António Zambujo, Capicua, Frankie Chavez, Gisela João, Milhanas, Sopa de Pedra, Tiago Nacarato e Valter Lobo são, também, nomes confirmados para os concertos de final de tarde na Concha Acústica. 


Dentre a programação, João Gesta destaca “as sessões de poetry slam, que são um sucesso; o António Zambujo a falar de poesia; a Gisela João a abrir os concertos e as Sopa de Pedra a fechar, e ainda um grupo muito jovem e fresco, os Nunca Mates o Mandarim”. “No cinema, vamos ter uma cópia restaurada do filme ‘Morte em Veneza’. Além disso, há oficinas infantojuvenis para proporcionar um vasto programa cultural para toda a família”, refere. A programação pode ser consultada em feiradolivro.porto.pt.

FLP 2024 - Festival literário acende a luz a Eugénio de Andrade

FLP 2024 © Andreia Merca

FLP 2024 - Festival literário acende a luz a Eugénio de Andrade

Andreia C. Faria © Mário Melo Costa

Eugénio de Andrade: Uma Homenagem por Andreia C. Faria


A festa da palavra viva — Poesia em movimento


A poeta portuense Andreia C. Faria é a comissária da homenagem de Eugénio de Andrade e conduz algumas sessões na Feira do Livro, proporcionando uma compreensão mais profunda da sua poesia. “O meu trabalho tem consistido sobretudo em reler Eugénio de Andrade e algumas das inúmeras abordagens críticas à sua obra, procurando enquadrar, a um olhar de hoje, aspetos que considero marcantes na sua poesia", conta. 


"Há traços da sua obra que me parecem urgentes à luz atual, mais ainda do que o foram no seu tempo de vida.” E exemplifica: “Interessa-me a forma como Eugénio expressa a aliança, que foi a da sua infância, entre os ritmos humanos e o mundo natural. Na sua poesia, o corpo e a linguagem parecem integrar a Natureza, há uma pertença do ser humano às «coisas da terra». A sua escrita cria, por vezes, no leitor o efeito espantoso de algo que floresce e dá fruto. As palavras de Eugénio, num tempo em que vivemos desligados do nosso entorno natural, podem ser dissonantes, e por isso poderosas."

Na geração de Andreia, Eugénio de Andrade era um dos primeiros poetas que se lia na escola e tinha, na altura, “a impressão de o compreender”. “Claro que há nele uma profundidade a que um adolescente dificilmente tem acesso, mas a musicalidade e o carácter comunicativo, diria até empático, dos seus versos atraíam jovens leitores. Voltei a lê-lo mais tarde, quando percebi a sua influência noutro poeta que admiro, Luís Miguel Nava. Portanto, não falarei em causa própria, mas a existir uma influência visível de Eugénio no meu trabalho será, talvez, por via desta triangulação”, revela.


A poeta conta que Eugénio de Andrade tinha “antipatia” por homenagens, talvez porque, “por norma, aquele que é objeto de homenagem é alguém cuja obra se perceciona como estando terminada, imóvel”. “Os poemas têm um fim se não revivem em novos poetas e leitores, mas esse não é o caso de Eugénio de Andrade, ainda hoje um dos poetas mais lidos em Língua Portuguesa. A sua é uma poesia em movimento, inacabável, porque permanece viva no fazer de outros poetas e entre os leitores”, conclui.

por Maria Bastos

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