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fimp '24 — Festival Internacional de Marionetas do Porto
Entrevistas
Entrevista com Igor Gandra, diretor artístico do festival
Festival Internacional de Marionetas do Porto

O festival de marionetas para gente grande está de volta de 11 a 20 de outubro e também traz espetáculos para miúdos.


O programa da 35.ª edição do fimp é, segundo o seu diretor artístico, “especialmente desafiante”, e conta com artistas e companhias de Portugal, Líbano, Itália, França, Bélgica, Inglaterra e Alemanha.

“Existir, Resistir, Desistir…”


Esta trilogia serve de mote para esta edição. “Estas três ideias entrelaçadas acabam por percorrer todo o programa, que é atravessado pela ideia de resistência, por um lado, e modos de existir muito distintos, e não tem só que ver com a origem geográfica das propostas, mas também das gerações diferentes de artistas, e um pouco sobre a maneira como os espetáculos falam sobre formas diferentes de existir”, desfia Igor Gandra.


No que respeita à ideia de ‘Existir’, o diretor artístico refere que o programa é “muito plural”, na medida em que mostra “muitas possibilidades de existência e coexistência”, apontando como exemplo o espetáculo In Many Hands, de Kate McIntosh, artista neozelandesa radicada na Bélgica. Trata-se de “uma performance participativa, que propõe outras formas de existirmos coletivamente a pretexto do convívio com os objetos”.

Festival Internacional de Marionetas do Porto

© Rui Meireles

Já a ideia da resistência está “muito presente” em espetáculos como Prometeu (Rivoli, 19 outubro), da companhia Lafontana · Formas Animadas, de Vila do Conde, ou na nova criação da Ana Vidal, “em estreia absoluta”, intitulada Aruna e a Arte de Abordar Inícios (12 e 13 para o público geral e 14 e 15 para o público escolar, no Teatro Campo Alegre), “que fala, justamente, sobre esta possibilidade de recomeçar depois de uma catástrofe”.

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In Many Hands, de Kate McIntosh, © Mandy-Ly

Neste eixo, insere-se, também, o espetáculo Dura Dita Dura, “uma espécie de clássico contemporâneo do Teatro de Ferro, que já tem 15 anos. “É uma peça muito marcante no meu percurso, como artista, e no percurso deste teatro”, refere Igor Gandra, que é o encenador e também intérprete. A reposição deste espetáculo de formas animadas para todas as idades acontece a pretexto dos 50 anos do 25 de Abril.


“A ideia de ‘Desistir’ acaba por estar muito presente e é sobre a capacidade de deixar para trás certas coisas, de entender que certos caminhos têm de ser repensados”, diz. É o que nos mostra o comediante e artista inglês Kim Noble em Lullaby for Scavengers (Canção de Embalar para os Necrófagos/Recoletores), uma estreia nacional. Esta peça, apresentada em parceria com o Teatro Municipal do Porto, “é capaz de convocar os mais diversos sentimentos em quem assiste. Do humor à compaixão, passando pela repulsa física ou moral, nesta performance somos conduzidos de forma desconcertante por caminhos que atravessam zonas em que ficção e realidade se misturam”, lê-se na sinopse.

Como destaques da programação deste ano, Igor Gandra aponta “os espetáculos nas pontas das datas” do festival: Geologia de uma Fábula (11 e 12 de outubro, no Teatro Carlos Alberto - entretanto cancelado devido aos bombardeamentos e à invasão do Líbano pelas forças armadas de Israel) e In Many Hands (19 e 20 outubro no Teatro Campo Alegre).


Esta não é a primeira vez que a performance Geologia de uma Fábula, do Collectif Kahraba, vindo do Líbano, é apresentada em Portugal, mas Gandra “queria muito programá-la porque é uma rara manifestação de generosidade em cena”. “É muito bonita, muito poética, muitíssimo abrangente. Para nós, é interessante começar o festival com uma peça que pode ser vista por grandes e por pequenos; é uma peça que tem uma espécie de um sentir quase universal”. Nesta performance, Aurélien Zouki e Éric Deniaud manipulam barro ao vivo e “vão construindo imagens que nos remetem para a nossa própria ruralidade, para uma herança partilhada com o resto do Mediterrâneo. Eles têm esta coisa de se autorizarem uma certa inocência, e isso é interessante nos tempos que correm”, sublinha o diretor artístico do fimp.

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© Rui Meireles

A encerrar o festival, a performance In Many Hands, de Kate McIntosh, “enquanto experiência individual e coletiva”, é, segundo Gandra, “muitíssimo interessante”. “É uma forma de nos conhecermos a nós próprios, através do contato com objetos num dispositivo”, adianta o diretor artístico, que não quis “revelar demasiado” deste espetáculo porque “a surpresa também faz parte da própria experiência”. Remontada propositadamente para esta série de apresentações no fimp, em parceria com Teatro Municipal do Porto, a peça In Many Hands estreou em 2016 e “já é um clássico dentro dos trabalhos de exploração multissensorial” de Kate McIntosh.


Destaque ainda para duas cocriações do Teatro Ferro, uma delas em estreia absoluta; Capital Canibal (no Rivoli a 12 e 13), “uma peça musical um bocado explosiva”, que resulta de uma parceria com a Sonoscopia, e Quimera e Odisseias, criada em parceria com as Comédias do Minho. Trata-se de “uma experiência que cruza o universo do teatro, do cinema e da literatura”, partindo de um dispositivo de filmagem e projeção em tempo real (para ver a 15 de outubro no Círculo Católico de Operários do Porto).

Festival Internacional de Marionetas do Porto
Festival Internacional de Marionetas do Porto
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Geologia de uma Fábula, ©Rima Maroun

“O público do fimp sabe ao que vem”


Em três décadas e meia de existência, com programação “maioritariamente para adultos”, o festival tem procurado, a cada edição, provocar e surpreender o público: “Temos um grupo alargado de pessoas que sabem bem ao que vêm, que têm noção de que vão ser surpreendidas de alguma maneira, porque nós próprios também temos prazer nessa surpresa quando programamos, em descobrir coisas novas e de nos depararmos com objetos artísticos que também nos provocam, que nos fazem pensar de outra maneira, que nos fazem aprender qualquer coisa ou pensar de outra forma”, afirma o diretor artístico.


Apesar de o fimp ter um público consolidado, a “consciência de que é importante alargar o espectro das pessoas que chegam até ao festival” mantém-se. Foi, precisamente, com esse intuito que o Teatro de Ferro estabeleceu uma parceria com a Metro do Porto e tem, desde o dia 17 de setembro, a passar nos écrans das estações de metro um filme “protagonizado por objetos que não gostam de estar quietos”, e que resultou de uma residência artística. A estação da Trindade vai, também, ser palco de espetáculos do Teatro Dom Roberto com o marionetista Rui Sousa (a 12 e 20 de outubro).

“Há um núcleo duro de espectadores que partilha connosco esse prazer por um certo desafio que as propostas trazem.”

O programa inclui três masterclasses, destinadas a profissionais do setor e a estudantes de teatro, e dois workshops, que são “abertos a pessoas que têm curiosidade e desejo de conhecer um pouco mais”; e há ainda duas oficinas gratuitas de construção e manipulação de marionetas para toda a família, os Fimpalitos’24.


A organização do festival convidou a fotógrafa Susana Neves, que dedicou uma década de trabalho ao fimp, a expor alguns dos seus trabalhos fotográficos no Teatro Carlos Alberto, no âmbito desta 35.ª edição. A mostra, intitulada Fimpografias, estará patente ao público até 10 de novembro.


De 11 a 20 de outubro, o fimp vai percorrer diferentes salas e espaços do Porto, nomeadamente o Teatro Municipal do Porto (Rivoli e Campo Alegre), o Teatro Carlos Alberto e o Mosteiro de São Bento da Vitória, o Teatro do Bolhão, o Teatro de Ferro, o Teatro de Belomonte, o Círculo Católico de Operários do Porto, o Jardim da Cordoaria e, ainda, o Metro da Trindade, estendendo-se, também, a Matosinhos. Toda a programação em 2024.fimp.pt.

por Gina Macedo

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