Foi a partir da partilha destes momentos íntimos, relatados em vídeos curtos no Youtube, que Marta criou a sua personagem Beatriz Gosta. Aqui começou aquele catrapiscar da Marta que depressa se transformou num caso sério de enamoramento do público por ela e vice-versa. A culpada de tudo isto é a rapper portuguesa e amiga de longa data Capicua, que lhe lançou o repto: “E se contasses histórias em frente à câmara como contas para os teus amigos? E se essas mesmas histórias criassem empatia por quem está do outro lado da câmara?” O desafio foi certeiro e deu frutos. “As pessoas sentem-se representadas e ficam encorajadas para serem e assumirem quem são. Eu digo o que os outros pensam e não têm coragem de dizer, e o povo ri”, revela.

A Beatriz de 2015 não é a mesma de 2024; a personagem foi evoluindo tal como as fases da vida da Marta. O seu percurso pessoal quase que se funde nas suas rábulas do quotidiano que, afinal, é o de todos nós. Depois de ter sido mãe, sentiu a necessidade de abordar o tema da maternidade e falar sem rodeios das dúvidas, dos problemas e dos devaneios desta fase, desde a privação de sono, às alterações físicas e emocionais. A sexualidade continua a ser um dos temas centrais do seu trabalho, com foco na educação e quebra de estruturas rígidas de pensamento. Portanto, desta personagem podemos esperar uma mulher em constante mutação. Mas há algo nela que não muda e está entranhado na essência do seu trabalho – o Porto. Esse lugar bom para viver, para estar, para catrapiscar e nos enamorarmos perdidamente. É feito de paisagens que davam um postal e que, por si só, já são um convite para histórias de (des)amor e (des)encontros.