Chegamos antes das 17h30, hora a que o bar e a esplanada, com vista privilegiada para o rio, abrem ao público, para poder conversar tranquilamente com o presidente da direção, Joaquim Gonçalves, e com a tesoureira, Arménia Guimarães, que também é a cozinheira de serviço. Damos com ela a fritar bifanas e rissóis. “É para não ser só bebida”, diz, bem-disposta.

Natural de Cabeceiras de Basto, Joaquim, eletricista de profissão, está na presidência do rancho desde 2020, mas foi em 1993 que se tornou sócio “à força”, para poder usufruir do espaço de convívio. Casou-se e veio morar para ali, onde frequentava esta associação cultural e recreativa, outrora sediada na Rua das Taipas. Era lá que se encontrava com amigos e vizinhos para partidas de sueca e jogos de matraquilhos, entre duas de letra. Mas como não era sócio, o tempo de permanência máximo autorizado era de apenas 15 minutos. Passado esse tempo, era “posto na rua” e só voltava a entrar com nova autorização.

Juventude em ação

Em tempos idos, o Rancho do Douro Litoral teve cerca de 400 sócios. Hoje são 140, mas quase todos jovens. “Com 65 anos, sou o sócio mais velho”, afirma Joaquim. Devido à pandemia de Covid-19, o espaço esteve fechado durante dois anos. Esse tempo fez com que a freguesia mudasse: se antes era local de convívio de vizinhos daquela zona e de pessoas “mais antigas”, hoje tornou-se ponto de encontro de muitos jovens que, apesar de não serem moradores locais, têm vindo a dinamizar o espaço, para gáudio de Joaquim e Arménia.

“Agora é mais a juventude. E eles vêm e dançam nos ensaios. Ainda pensei que não gostavam por ser folclore, mas não; aderem muito bem!”, diz Arménia. A maioria são estudantes. Oito dos novos sócios decidiram adotar entre si um regime de rotatividade, em que dois deles ficam responsáveis por abrir, diariamente, o bar e a esplanada, que são fontes de receita da associação.

“Isto aqui é como uma família; e quem se portar mal vai lá para fora, mas a gente não tem razão de queixa”, atira Joaquim, que se mostra satisfeito por ter a quem passar o testemunho. “Eu chamo-os para ajudarem no serviço e para se irem habituando”, conta.

Apesar de a principal atividade ser o folclore, no salão de jogos organizam-se, também, torneios de snooker, de matraquilhos, de sueca e de pinguepongue. “Temos é de manter o folclore, mas estamos abertos a dinamizar este espaço com outras atividades”, afirma a tesoureira.

Além das mesas de jogos, reparamos num pequeno palco. Arménia conta que, antigamente, faziam teatro com um grupo de Miragaia, mas agora usam-no apenas para fazer karaoke à tarde. “Inventamos uns músicos, o Clemente, o Marco Paulo, para a gente se rir um bocadinho.”

Apesar de ser ainda um espaço desconhecido da maioria dos portuenses, tem vindo a granjear fregueses estrangeiros a viver na cidade. “Vêm cá muitos estudantes de Erasmus que ouviram falar do rancho por passa-a-palavra. Quem vem cá pela primeira vez fica todo entusiasmado com as vistas da esplanada, que são muito lindas”, diz Arménia.