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No número 311 da R. Duque de Saldanha, no Bonfim, há um lugar onde a arte respira e se expande em todas as direções. Chama-se PAZ – Performance Arts Zone e é um espaço de criação, um organismo vivo que está em constante transformação, e que nasceu de um desejo de partilha e de liberdade criativa.
Mariana Amorim © Inês Aleixo
Fundado por Mariana Amorim e Tommy Luther, este centro é um ponto de encontro entre linguagens artísticas. Aqui, dança, teatro, música, marionetas, performance e artes plásticas não se limitam a coexistir – entrelaçam-se. “O nosso grande objetivo é ter o espaço cheio de gente a entrar e a sair, e que funcione como um organismo vivo, movido por cruzamentos artísticos", afirma Mariana. “Não só dança, não só teatro, não só exposições nem performances, mas uma mistura entre todas estas formas de expressão artística.”
A diversidade é um dos pilares deste projeto, que acolhe alunos de todas as idades. “Não fazemos seleção por níveis, não é necessário nenhum tipo de conhecimento prévio, apenas vontade de experimentar, aprender e se relacionar com a comunidade”, acrescenta Tommy.
Um Palco para experimentar
O PAZ acolhe um programa dinâmico de atividades – aulas de dança e de teatro, workshops de marionetas, espetáculos, exposições e oficinas para crianças. Mas talvez o projeto que melhor sintetize o espírito do espaço seja o It's Alive, uma apresentação trimestral onde os artistas testam novas ideias num formato flexível e intimista. “É uma open call [convocatória] que está aberta à colaboração com outras estruturas”, diz Mariana.
“Cada espetáculo dura, no máximo, 15 minutos, mas pode ter apenas 30 segundos. Em cada edição, o público pode ver cinco, seis performances diferentes numa hora”, explica Tommy. “Não é um showcase [montra], não é um produto acabado; é um laboratório, o público vê, experimenta, fala do que funcionou. E, a partir daí, podem surgir colaborações e o projeto vai-se moldando.”
© DR
© Inês Aleixo
A primeira edição revelou a necessidade de estruturar melhor a troca entre público e artistas. “Percebemos que as pessoas não interagiam naturalmente sem lhes fazermos perguntas diretas”, conta Tommy. “Agora, levamo-las para um espaço onde podem sentar-se e refletir juntas, num espírito de partilha pedagógica e positiva.”
Este espaço de conversa tem, também, uma biblioteca para os alunos que frequentam o espaço, e acaba por ser uma sala de convívio, onde acontecem oficinas e festas, e que pode ser adaptado às diferentes necessidades.
O Bonfim está em ebulição
A escolha do Bonfim para sediar o PAZ não foi ao acaso; este bairro está a fervilhar. Nos últimos anos, tem sido o polo de novas iniciativas culturais, oferecendo o contexto ideal para um projeto como este. “É uma área com uma energia especial; ainda há muitas famílias a viver aqui, não é só um sítio de passagem. Isso permite criar uma ligação real com a comunidade”, ressalva Mariana.
Essa proximidade reflete-se nas parcerias que têm estabelecido. “A Junta de Freguesia do Bonfim tem sido uma grande aliada. E ter escolas por perto também é uma sorte”, acrescenta Tommy. “ O PAZ funciona em três eixos: profissional, com aulas e espetáculos para artistas; educativo, com formação para crianças e jovens; e comunitário, abrindo o espaço à cidade.”
O desafio de criar um espaço artístico
Manter um projeto cultural independente implica desafios diários. “A multiplicação de tarefas é o maior deles”, admite Mariana. “Somos uma equipa pequena e fazemos de tudo: cartazes, bilheteira, luzes, produção. Às vezes, começamos a correr sem termos aprendido a andar primeiro. Mas aprendemos. Caímos e levantamo-nos”, acrescenta.
“Chega um ponto em que percebes que não é só uma questão de vontade, há uma obrigação de partilhar”, defende Tommy. “A arte não é algo que guardamos no bolso. Como aqueles feijões mágicos das histórias: se os esconderes, morrem. Tens de plantá-los, passá-los adiante.”
Aula de Ballet Clássico © Inês Aleixo
Descascar camadas: Um convite à cidade
Para quem vê a arte contemporânea como algo distante, hermético, o PAZ tem uma resposta simples: brincar e sonhar. “As crianças entram aqui e, em minutos, já tomaram conta do espaço”, diz Mariana. “Os adultos perdem essa capacidade. Esquecem-se de brincar. E o que fazemos aqui é abrir um espaço para isso. Para explorar, sem medo.”
“Já fomos todos marionetistas. Já cantámos, já dançámos, já criámos música. Só que, a certa altura, dizemos a nós mesmos ‘agora sou adulto, já não posso brincar’”, reflete Tommy. “Mas a memória do corpo está lá. Só precisamos de um empurrão para redescobrirmos essa liberdade.” – Esse ’empurrão’ está ali, na R. Duque de Saldanha, à espera de quem queira entrar em movimento.
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