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Código Postal 4000 e tal
O clube que todos os anos é campeão dos bailaricos
FC Guindalense
Codigo Postal: Guindalense

Quase todas as associações têm um bar. Nenhuma tem um bar – e uma esplanada – como o Guindalense.

Quem atravessa a Ponte D. Luís rumo ao Porto repara numa esplanada engalanada com luzes coloridas de festa como se ali o São João durasse o ano inteiro. É a sede do Guindalense Futebol Clube, uma associação desportiva e recreativa da Sé que mantém um espírito bairrista. No interior, as paredes estão pintadas de verde, a cor do clube, e as duas vitrines carregadas de taças e troféus, entre outra memorabilia, confirmam que se trata de uma coletividade com história. O Guindalense era “um clube muito forte na zona”, assegura o seu presidente, Rui Barros. Atletismo, pesca desportiva, futebol de onze, futebol de salão, xadrez, damas, minibasquete. De muitas modalidades viveu o Guindalense, mas “foram-se perdendo ao longo do tempo por falta de condições e falta de apoios”. O clube acabou por abandonar a atividade desportiva, que retomou há dois anos com uma equipa de futebol de sete, com 16 atletas, a jogar nos campeonatos da Associação Portuguesa de Minifootball, e também quer voltar a ter uma equipa de futsal e uma equipa de futebol de onze, “com as velhas guardas”. “Agora há uma luz ao fundo do túnel para a gente renovar o desporto no clube”, diz, esperançoso.

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Rui Barros, presidente do Guindalense FC © Andreia Merca

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© Andreia Merca

Rui descobriu o Guindalense aos 16 anos “por causa das rusgas de São João”. Ao longo de 30 anos, já foi vogal, vice-presidente, secretário, presidente da assembleia, só não foi tesoureiro. Há 12 que é o presidente da direção deste clube fundado “oficialmente” em 1976, ano em que se mudou para o número 43 das Escadas dos Guindais, até então sede do rancho folclórico “Rosas da Sé”. Mas garante que o clube já existia e que os seus membros se reuniam às mesas dos cafés da Ribeira (e há troféus de torneios de futebol datados de 1971).


“A grande fonte de receitas” da associação são o bar e a esplanada que se debruça sobre o rio Douro e impressiona pela vista panorâmica. O Guindalense soube tirar partido deste ativo. “Como o clube abrandou a nível desportivo, não podia ficar parado. Não quero que seja um clube de levantamento de copo, e que viva só de memórias”, afirma. “Para mexer com o Guindalense”, a direção decidiu apostar em atividades culturais e recreativas e “deu certo”. Por isso, são muitas as festas que pontuam o calendário. Além da festa de aniversário do clube, em março, “que dura o mês todo”, e que este ano contou com o Marante “num estilo sunset”, acolhem a festa de encerramento do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI), que vai acontecer a 25 de maio. Maio é também o mês em que se realiza a Serenata ao Douro, um festival de tunas que vai já para a sua 26ª edição e que começou por ser organizado por alunos da Universidade Moderna do Porto (atual Lusófona), vizinha do clube.

“Nos anos 90, esta era a segunda casa de estudantes que vinham de fora; havia tantos estudantes aqui que a gente queria passar e nem conseguia”, recorda. “Eles sentiam-se bem aqui, e foi isso que me apaixonou no clube, foi a maneira como nos integravam. E aquilo que a gente tenta fazer com as pessoas que permanecem é integrá-las, mantê-las dentro da comunidade”, ressalva. Rui destaca, ainda, entre as grandes festas, o Magusto Comunitário. “É das festas mais participadas do clube; damos as castanhas e o vinho, e há música para bailar. E no final, oferecemos, também, papas de sarrabulho. As pessoas só pagam o que pedirem ao balcão.”

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“O São João dá cabo de nós”


“Também temos projetos megalómanos: É o São João, que dá cabo de nós!”, atira, a rir. “Não temos como dizer não ao São João! O ano passado tivemos aí o senhor Pedro Mafama e foi para ‘rebentar’. A festa do Guindalense tem crescido tanto, tanto, tanto! É a única festa que está a funcionar com música ao vivo até às 7 da manhã”, diz, sem esconder a vaidade. “Todos os espetáculos são de entrada livre; as pessoas podem vir confraternizar, não cobramos dinheiro a ninguém. Aonde é que a gente vai buscar os dinheiros para depois pagar aos artistas? Ao bar!”


Atualmente, o clube conta com 260 sócios (“à volta de 180 têm as quotas em dia”), mas há requisitos. “Podíamos ter 20 mil sócios, mas para ser sócio do Guindalense não basta preencher uma ficha na internet e acabou.” Só se entra por convite. “Os associados têm de conhecer o novo associado que vai entrar. A pessoa tem de ‘entrar dentro’, tem de entrar no espírito do Guindalense, e não vir aqui simplesmente pelo preço do café ou da cerveja”, declara, peremptório. 

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© Andreia Merca

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Emblema do Guindalense FC © Andreia Merca

Estrangeiros são amigos


Hoje, o Guindalense é procurado não só por locais, mas sobretudo por estrangeiros. “Começámos a ser invadidos, entre aspas, pelos estrangeiros. E eu digo entre aspas porque eles são muito bem recebidos”, frisa. “Há umas semanas, chateei-me com um cliente português. Temos as coisas muito bem organizadas; as pessoas, para não se cruzarem, entram por um lado e saem por outro. Mantivemos este sistema desde a Covid. Tivemos uma pessoa que entrou, viu fila e veio perguntar se tinha de ir para ‘a fila dos estrangeiros’. Todos temos o mesmo valor! E o Guindalense não fez nem mais nem menos do que acompanhar a evolução da cidade, e estas pessoas também nos trazem dinheiro”, defende. “Não quero ser subsídio-dependente; as coletividades devem pensar em novas formas de trabalhar sem serem subsídio-dependentes. O Guindalense tem hipótese de ter o espaço que tem, com as vistas que tem, e não recebo um subsídio há anos. Somos um clube com as contas completamente organizadas”, afiança. 


Se a vista sobre o Douro nos pode aconchegar o espírito, para aconchegar o estômago o Guindalense propõe vários petiscos. A especialidade é o “cachorrinho” que tem uma história por trás: “Temos de dar mérito a quem o tem, e quem começou a fazer este cachorrinho foi a Cervejaria Gazela, ao pé do Teatro Nacional São João. Mas um dia pensámos em ter cá uma iguaria de que os sócios pudessem gostar e fomos lá comer com outro ‘tipo de olhos’, comer para ver o que é que lá estava dentro, e houve ali um trabalho de pesquisa que não foi bem um Sherlock Holmes, mas foi quase.” E assegura: “Nós não estamos a fazer concorrência a ninguém. Há muita gente que adora o nosso cachorro porque não é muito duro. A bifana também sai muito bem, e as nossas batatinhas fritas, de seis milímetros, fininhas. Vendo muita batata! Categoria.”

por Gina Macedo

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