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São João 2024
Cheira a manjerico, cheira a São João!
Joaquim Araújo — produtor de manjericos
Cheira a manjerico, cheira a São João!

Considerada “a erva dos namorados”, o manjerico não pode faltar pelo São João. A Agenda Porto foi visitar uma das maiores produções do país, mesmo aqui ao lado. “É uma planta pela qual a gente se apaixona porque cresce redondinha, cresce uma perfeição”, diz-nos o empresário Joaquim Araújo.

São aos milhares os manjericos no terreno de Joaquim Araújo em Pedrouços, na Maia. Perfeitamente alinhados, dir-se-ia que são plantados com o auxílio de régua e esquadro. Todos os anos, saem daqui mais de 40 mil manjericos para todo o país e também para o estrangeiro, levando um cheirinho dos Santos Populares às comunidades emigrantes, sobretudo para países como França e Suíça.


Já passaram mais de três décadas desde que Joaquim começou a produzir manjericos em larga escala. Hoje, é um dos maiores produtores desta planta aromática e, dizem, afrodisíaca. “Os clientes não me largam”, ri-se. “Porque eu tenho qualidade”, assevera.


Tudo começou quando um vizinho lhe ofereceu cerca de 50 a 80 pés. “Apaixonei-me por esta cultura”, confessa, recordando que, “nessa altura, [a produção] estava um bocadinho a morrer”. Este solicitador e empresário da construção civil admite que o negócio do manjerico é rentável, mas frisa que o mantém por gosto, “e para ajudar a manter as nossas tradições”. “O manjerico é muito nosso, é muito português”, sublinha. “Os turistas ficam intrigados com esta planta. Ficam admirados! Mesmo até com o alho-porro. Para eles, é estranho festejarmos com os manjericos, e acho que é [algo] muito nosso.”

Cheira a manjerico, cheira a São João!

© Rui Meireles

Cheira a manjerico, cheira a São João!

© Rui Meireles

Para que os manjericos “estejam lindos” em junho, a sua produção inicia-se em fevereiro, mês em que começam a ser semeados em alfobre, e a diferentes tempos para que, por altura dos Santos Populares, atinjam diferentes tamanhos. “Os pés de manjericos vão nascendo todos juntinhos, milhares deles”, sendo que, nesta fase, a principal missão é livrá-los das ervas daninhas. Depois de estarem com cerca de 10 centímetros, “já com quatro ou cinco folhas verdadeiras”, são transplantados para o terreno, deixando-se cerca de 30 centímetros entre cada pé. “E, cada um por si, o manjerico vai-se desenvolvendo.”


Na altura de tirar as plantas da terra, este empresário chega a ter 20 pessoas “a trabalhar de sol a sol, sem parar”. A partir de meados de maio, o produtor deixa cada planta crescer até a um tamanho específico, sendo que o tamanho médio para comercialização corresponde a um vaso de 14 centímetros de diâmetro (à venda, encontramos manjericos em vasos de sete a 22 centímetros de diâmetro).


Por falar em vasos, com este produtor “não há cá plástico”. “É importante que se diga: trabalhamos só com o vaso de barro; este é mesmo um manjerico tradicional!”, sublinha. “Produzimos muita quantidade, mas não fugimos ao manjerico típico no vaso de barro.” — Os vasos são encomendados a uma fábrica na Vergada, “que está a produzir para a campanha deste ano desde que terminou a do ano passado”.

“Uma planta que é uma perfeição”


Para Joaquim, o manjerico é uma planta “pela qual a gente se apaixona porque cresce redondinha, cresce uma perfeição”. “Já me perguntaram se tenho muito trabalho a podar a planta para ela ficar redondinha; a planta é assim por si própria. É engraçado que quando temos, por exemplo, duas plantas juntas (uma roxa e outra verde), quando crescem uma parte fica verde e outra parte roxa. Se vierem daqui a 10 dias, os dois pés vão ter um formato redondinho. Podia cada uma fazer a sua bola, mas não; as duas plantas unem-se na perfeição”, diz, entusiasmado.

A quadra sanjoanina remata o manjerico


Joaquim não se dedica apenas à produção de manjericos. Também se lança, juntamente com a sua esposa, à criação das quadras que vão encimar cada planta que vende. “O manjerico está muito ligado às paixões e à troca de afetos, e a quadra completa o gesto”, frisa.


“Gostamos de usar alguma brincadeira à mistura e ir um bocadinho ao encontro do que esta planta transmite, ou seja, do efeito que tem nas pessoas”, afirma, acrescentando que as quadras são criadas “de acordo com a brincadeira amorosa e a troca de afetos, e através dessas quadras – algumas mais picantes que outras – gostamos de animar as pessoas.” A Joaquim agrada-lhe, sobretudo, ver as pessoas “entretidas a ler as quadras e a rir delas por as acharem engraçadas”.


Segundo o produtor, as pessoas quando compram o manjerico gostam de escolhê-lo conforme a quadra que traz para “melhor se enquadrar na oferta que querem fazer”, diz, assegurando que “as pessoas reconhecem sempre alguém nas quadras; sentem que há quadras que são mais direcionadas para a mãe, para o pai, para a amiga, para o marido...”

Cheira a manjerico, cheira a São João!

© Rui Meireles

Atrair amantes e afastar melgas


De folhas pequeninas e arredondadas, verdes ou roxas, esta planta “de aroma agradável”, é considerada “a erva dos namorados”. Mas se pode agradar à cara-metade, não é do agrado dos insetos devido ao eugenol, presente na sua composição. “À noite, podemos colocar o manjerico dentro de casa porque funciona como um repelente de melgas e mosquitos”, sugere Joaquim.

Cheira a manjerico, cheira a São João!

© Rui Meireles

“O manjerico quer carinho”


Os manjericos podem viver além dos Santos Populares: “Acima de tudo, é preciso ter muito carinho com a planta.” É este o segredo de Joaquim. Mas em que consiste, afinal, este carinho? Como são plantas de exterior, o manjerico deve estar “bem localizado, numa varanda, para estar ao livre, desde que não lhe falte água”. Também pode estar dentro de casa, mas não durante muito tempo, “porque precisa de sol e de manter a rama seca”. “Se colocarmos a planta dentro de casa, a concentração de água é muita, a rama não chega a secar, começa a ‘melar’ pelo meio, e morre”, explica, acrescentando, também, que “em dias de sol intenso” deve ser retirada da varanda. E deixa a dica: se mudarmos de vaso, o manjerico continua a crescer.


O produtor assegura, ainda, que o manjerico pode durar até ao Natal. “Há pessoas que aguentam esta planta durante meses, até porque ela ‘puxa’ uma florzinha branca e dela vão nascer cerca de quatro sementes que, depois de estarem devidamente vingadas, podemos aproveitar para semear, terminando, assim, o ciclo da planta.”

por Gina Macedo

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© Rui Meireles

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