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"Solilóquio do Caos", de Catarina Campos Costa
Entrevistas
Telenovelas brasileiras e cultura do cancelamento
Catarina Soliloquio do Caos

© Inês Aleixo

“Uma millennial perdida entre as suas referências pop” quer levar o público numa viagem pelo seu imaginário e pelas obras que a marcaram. É esta a proposta de Catarina Campos Costa neste Solilóquio do Caos que estreia no Palácio do Bolhão, de 13 a 15 de março, e que conta com o apoio à criação e à dramaturgia de Bernardo de Almeida.

“A lente, o filtro, é a Cultura do Cancelamento. O hip hop dos anos 90, as telenovelas brasileiras dos anos 2000 e os filmes do Woody Allen são algumas das obras das quais partiremos para formular as perguntas: o que é a cultura do cancelamento, de onde vem e onde está o seu limite? Como podemos interagir com obras de arte de artistas que cometeram falhas morais? Devemos boicotar a arte quando discordamos dela politicamente? E como é que a comédia e o humor se podem posicionar na defesa da liberdade de expressão?”, lê-se na sinopse.


“Queria muito fazer um espetáculo sobre cultura do cancelamento por achar que era um tema controverso”, conta Catarina à Agenda Porto. Quando a atriz convidou a equipa para trabalhar consigo neste projeto artístico, um dos 18 selecionados para o programa de Residências Artísticas 2024/2025 no CAMPUS Paulo Cunha e Silva, era este o tema central. Mas, ao longo do processo, percebeu que “se fizesse um espetáculo só sobre isso, seria uma coisa muito moralista”. “Era impossível não mostrar um posicionamento, porque é um tema muito politizado.”


“Estava com medo, porque também falamos muito sobre a diferença entre fazer um julgamento estético ou um julgamento moral sobre uma obra de arte; isto é, se tu vires um filme de um artista e conheceres a sua vida, que influência é que tem [na tua apreciação da obra saberes que] o artista cometeu falhas morais? Isso interfere na maneira como tu interages com a obra dele? Essa, no fundo, é a pergunta que vem antes de ‘devo cancelar este artista? devo cancelar esta obra?’”, desfia a atriz portuense, nascida nos anos 90.

Catarina Soliloquio do Caos

Cartaz de Solilóquio do Caos © Mafalda Miranda Jacinto

Catarina Soliloquio do Caos

Catarina Campos Costa © Inês Aleixo

Entretanto, pôs-se a pensar nas obras e nos conteúdos que consumia enquanto crescia, e que a moldaram, e concluiu que tinham, de alguma forma, um caráter biográfico. “Se os artistas que tu admiras são os artistas que estão mais implicados naquilo que estão a fazer com a sua biografia, então se calhar vais ter de dar um bocadinho mais de ti, pensei para mim própria", conta-nos. Foi assim que chegou às telenovelas brasileiras. “É uma coisa popular, toda a gente sabe o que é; e, direta ou indiretamente, marcou a vida de quem cresceu nos anos 90; foi uma coisa que teve muita influência na minha vida, e também é um conteúdo altamente cancelável”, sublinha.


Catarina garante que o exercício em Solilóquio do Caos é “não fazer um espetáculo muito popular, que é só uma comédia, sem profundidade nenhuma; não fazer um espetáculo que é só sobre si, o seu ego e a sua história, porque isso não tem interesse nenhum; e não fazer um espetáculo muito político, mão no ar, panfletário”.


“Acho que vai ser um espetáculo muito divertido, mas que vai ter momentos em que essa risada é interrompida por uma coisa muito forte, por um constrangimento… As pessoas riem, riem, riem e depois ai, não estava à espera desta!”, antecipa.

“Eu nunca senti que tivesse saído do Porto”


Apesar de ter saído do Porto em 2009 para prosseguir estudos e trabalhar, primeiro em Paris, depois em Lisboa e em Londres, Catarina garante que “nunca sentiu que tivesse saído daqui”. “Tu nunca deixas de ser daqui, aonde quer que vás parece que transportas o Porto contigo, ou por uma questão mais prática, que é o teu sotaque, e as pessoas vão sempre perceber que és do Porto, ou através da tua cultura e de coisas que são muito características à cidade.”


A atriz, que diz que não se reconhece como criadora (“quando tenho uma ideia que acho que é muito forte, gosto de a pôr cá para fora; às vezes, vem canalizada numa personagem, e outras vezes acontece como agora, num espetáculo”), admite estar “um bocadinho nervosa” por estrear este espetáculo no Porto, mas garante que é, também “muito especial”.  “Acho que nunca tive tanta gente próxima, da família, a ver um espetáculo meu, e isso deixa-me um bocadinho nervosa; às vezes, eu falo neles, e eles sabem o que é verdade e o que é que não é, mas os espectadores que estão sentados ao lado deles não sabem.”

Catarina Soliloquio do Caos

Catarina Campos Costa no CAMPUS Paulo Cunha e Silva © Inês Aleixo

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