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Reportagem
Carnaval Atonal: Um desfile de samba noise
Juntar um bloco de Carnaval e a comunidade de música experimental é a proposta de Luiza Leitão
Carnaval Atonal mar 2025

Ensaio Carnaval Atonal © Nuno Miguel Coelho 

Este ano, há um novo bloco de Carnaval a desfilar pelas ruas do Porto. Trata-se de uma banda itinerante, aberta a toda a gente que queira participar e que utiliza a música experimental e as artes plásticas como “veículos para a colaboração, criação e celebração”. A ideia partiu de Luiza Leitão, que se inspirou nos blocos de Carnaval do Rio de Janeiro, de onde é natural, para criar o Carnaval Atonal, um dos 17 projetos apoiados pelo Criatório em 2024.

“A proposta é juntar um bloco de Carnaval e a comunidade de música experimental e do noise que existe no Porto, que é bastante forte”, conta-nos a artista plástica. “O atonal vem daí, sem tom; nós não trabalhamos com instrumentos típicos, tradicionais; musicalmente, a gente está tentando encontrar um lugar samba noise”, salienta, acrescentando que este projeto “diz muito sobre a sua existência nessa cidade”.  “Fui apresentada a esse universo do noise, da experimentação, da filosofia do-it-yourself, e o Carnaval é uma plataforma sem limitações”, sublinha a artista brasileira que, desde 2017, vive no Porto.

Carnaval Atonal mar 2025

Luiza Leitão © Rui Meireles

Carnaval Atonal mar 2025

Oficina de gambiarras eletrónicas © Carlos Campos

Para colocar de pé o bloco, no final do ano passado, decorreram oficinas gratuitas de construção de instrumentos não convencionais, nomeadamente oficinas de gambiarras eletrónicas e acústicas e de instrumentos cerâmicos, sob a orientação de artistas plásticos que exploram o som nas suas criações.


“No Brasil, a gambiarra é uma forma espontânea de se resolver algum problema do dia-a-dia com os materiais que você tem à mão, é no sentido de improviso”, explica Luiza.  As gambiarras eletrónicas foram construídas sob a orientação de Pierre Pierre Pierre, artista sonoro autodidata e um dos mentores deste projeto, que ensinou a construir instrumentos eletrónicos sem solda, enquanto a artista Inês Tartaruga Água demonstrou como é possível alcançar sonoridades com instrumentos de sopro feitos com tubos de PVC e balões. “Fizemos membranofones, que consistem em tubos com membranas onde passa o ar, e que emitem um som quase de uma gaita de foles ou de uma flauta, varia um bocado”, conta.

Carnaval Atonal mar 2025

Oficina de gambiarras acústicas © Carlos Campos

Houve, ainda, uma oficina dedicada à criação de instrumentos cerâmicos, dinamizada por Rebeca Letras, onde os participantes construíram apitos, megafones e chocalhos. “Tudo foi feito com a intuição do coletivo. Os instrumentos construídos podem ser tocados por quem se quiser juntar, há imensos instrumentos”, assegura Luiza, lançando o repto para que as pessoas interessadas se juntem ao Carnaval Atonal.

Carnaval Atonal mar 2025

Oficina de instrumentos cerâmicos © Carlos Campos

Carnaval Atonal mar 2025

Oficina "Fantasia dos Sonhos" © Carlos Campos

A última oficina, “Fantasia dos Sonhos”, decorreu em dezembro, e foi orientada por Nani, e teve como objetivo a criação da indumentária para o desfile a partir de tecidos descartados e roupas em desuso. “A Nani é uma artista que tem uma pesquisa com tirelas com que se fazem os tapetes tradicionais; ela cria tramas com técnicas de tricô, mas só usando as mãos, sem agulha e sem máquinas; e tudo isso me parecia fazer sentido porque eu queria que as coisas fossem bastante artesanais e acessíveis para que uma pessoa que aprendesse a fazer aquilo pudesse facilmente replicar em casa”, explica Luiza.

Carnaval Atonal mar 2025

Francisco Aguiar durante o ensaio © Nuno Miguel Coelho

Ensaios no Túnel: Orquestrar o Caos


Num domingo chuvoso de fevereiro, a Agenda Porto assistiu a um ensaio do Carnaval Atonal que contou com a participação do músico Frankão. Enquanto se experimentavam os membranofones e os instrumentos de percussão feitos a partir de caixotes de lixo e de bidões, também se afinavam as vozes. É que apesar do noise, também há melodia:


Eu tinha uma andorinha que me fugiu da gaiola/ Vai, andorinha preta/ De asa arrepiada,/ Vai, vai dormir teu sono andorinha, ô/ Que é de madrugada. — Os versos da canção brasileira “Andorinha Preta”, da autoria de Breno Ferreira Hehl, gravada nos anos 30, vão integrar o desfile do Carnaval Atonal. Foi uma escolha de Francisco Aguiar, que foi desafiado por Luiza Leitão para “Orquestrar o Caos” (nome que deram aos ensaios).

“É a primeira vez que estou a fazer uma coisa deste género, não tenho a experiência da batucada, mas tenho algumas ideias de composição e de como as coisas podem funcionar”, conta, admitindo que “gerir um grupo de pessoas e andar com elas na rua cria um nervosismo grande”. Contudo, o facto de ser um projeto participativo e colaborativo tranquiliza-o. “As pessoas estão à espera de que alguém as guie, mas toda a gente pode participar na parte criativa, contribuindo com ideias.”


Esta ideia de participação está subjacente a todo o projeto. Por isso, Luiza Leitão reforça que “todos são bem-vindos a participar no desfile, a fazer palhaçada e a divertir-se”. A concentração está marcada para as 14h00, no Túnel, na R. de Justino Teixeira, 601, em Campanhã.

Carnaval Atonal mar 2025

Ensaio de Carnaval Atonal © Nuno Miguel Coelho 

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