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A escultura de sons de João Pais Filipe
Entrevistas
O músico apresenta-se na Lovers & Lollypops no dia 23 de abril
A escultura de sons de João Pais Filipe

João Pais Filipe tem uma longa carreira que atravessa diferentes estilos — dos trabalhos a solo a grupos como os HHY & The Macumbas —, mas sempre com um foco febril: a percussão, e os limites das possibilidades do ritmo. Enquanto a maior parte dos músicos habita as clássicas quatro batidas por compasso, João Pais Filipe tem vindo a procurar na tradição musical do mundo os casos extremos de ritmos estruturalmente desafiantes. Falámos com ele, no seu estúdio, a propósito do recentemente editado "Teocalli", e do concerto que vai dar, com Ilpo Väisänen, na Lovers & Lollypops.

João Pais Filipe é um músico portuense. Apesar de se ter formado na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto seguiu outro caminho. Como o próprio diz, "uma grande parte das pessoas que fazem Belas Artes acabam por trabalhar noutras coisas". Antes, durante e depois de Belas Artes já existia uma dedicação completa à percussão — mas de Belas Artes ficou o trabalho na criação à mão de gongos e sinos, que são "uma componente visual importante numa performance ao vivo, mas que também trazem algo de diferente ao som, pela sua forma e composição".


Assim, o título de "escultor de sons" assenta como uma pele curtida a João Pais Filipe que recorda que "tudo isto nasceu de querer experimentar sons novos". "Comecei a moldar pratos de bateria velhos que tinha em casa para tirar dali sons estranhos, e até supostamente maus, mas dos quais eu gostava", conta.

A escultura de sons de João Pais Filipe

© Rui Meireles

A escultura de sons de João Pais Filipe

© Rui Meireles

Essa escultura, além da literal criação de instrumentos em cobre e alpaca (liga de cobre, zinco e níquel de prata), pauta-se por uma antropologia de ritmos que se estende desde o início do percurso musical: "Comecei a colecionar bastantes discos de música do mundo, e fui estudando também algumas tradições africanas e do Médio Oriente. Comecei a perceber que, a nível rítmico, a riqueza era muito maior do que aqui, no Ocidente."


"Aqui, tudo é em compassos de 4/4, mas na Turquia, por exemplo, os compassos são em nove batidas; para nós é estranhíssimo estar a dançar compassos de 9", diz. Esta exploração de outras sonoridades influenciou radicalmente as composições que João defende não se tratarem de "virtuosismo", mas antes de "formas de nos transportarmos a uma visão diferente do mundo".

Esta "visão diferente do mundo" aliou-se ao mundo da imagem em movimento com "Teocalli", o álbum lançado a 7 de abril. Este álbum remete-se ao trabalho comissariado, em 2024, a João Pais Filipe pelo Batalha Centro de Cinema: musicar ao vivo o filme "Teocalli" do coletivo mexicano Los Ingrávidos. Musicar um filme frenético que convoca a imagética da cultura nahuatl, do povo azteca, trouxe um desafio muito próprio: "Eu estava com um dilema porque o filme é todo muito rápido, são imagens filmadas em 16 milímetros, super frenéticas; aquilo não pára."


Assim, mais do que marcar cortes e assinalar o que surgia no ecrã, e após consultar a amiga realizadora Mónica Baptista, João decidiu tocar, sem interrupção, durante os 40 minutos da curta-metragem — num "misto de composição e improviso". Embora possa viver à parte do filme, o álbum, agora lançado, não se separou completamente dele, tendo sido desenhado para assentar na sua duração, estando mesmo planeada a visualização do filme em apresentações do disco.

A escultura de sons de João Pais Filipe

A escultura de sons de João Pais Filipe

A apresentação de "Teocalli" no Porto ainda não tem data marcada, mas, entretanto, já este mês, João Pais Filipe vai ter oportunidade de subir ao palco com um ídolo seu. A 23 de abril, na Lovers & Lollypops, vai tocar com Ilpo Väisänen, figura fundadora dos finlandeses Pan Sonic, um projeto de referência da música experimental. Este concerto será o culminar de uma semana de residência artística de ambos na editora durante este mês. João confessa que sempre foi fã dos Pan Sonic, por isso este concerto vai ser "algo bastante especial". "Ainda fico atónito quando penso nisso", confessa.


Sobre o concerto em si, João não consegue adiantar nada, uma vez que nada está preparado de antemão; tudo será gerado no decurso da residência. Mas adianta: "o Ilpo também só trabalha com materiais analógicos."

Sobre o futuro, João Pais Filipe confessa que sente que está "numa fase de mudança". "Ainda não sei muito para onde é que vou; sinto que culminei a fase de pesquisa rítmica." Para breve está o lançamento de um álbum no âmbito desta pesquisa, onde João sente que trabalhou até à exaustão o tema, explorando "números irregulares" na cadência rítmica: "Todos os números primos; acho que o número mais alto que explorei em compassos foi já o 101, o que é elevadíssimo."


Para breve, sente vontade de partir para "uma exploração mais melódica, talvez com tubos". Um trabalho que, garante, será feito em continuidade com a exploração que tem feito até agora — assegurando que a sua discografia seja divisível apenas por si, e pela unidade.

A escultura de sons de João Pais Filipe

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