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Reportagem
28.ª Exposição de Camélias do Porto
28.ª Exposição de Camélias do Porto

É das “árvores de folhas luzidias” que nasce a flor de inverno, a camélia. Em todo o mundo estão identificadas centenas de espécies diferentes, só no Parque de São Roque existem mais de 200. Será neste espaço verde municipal, com mais de seis mil hectares, em plena zona oriental da cidade que, no primeiro fim de semana de março, decorre a 28.ª edição da Exposição de Camélias do Porto.


Esta é a mostra que marca o (re)encontro com os melhores e os mais raros exemplares da flor que o Porto adotou como sua. Cumpre-se assim uma tradição que traz um vasto programa de atividades paralelas, como música, oficinas e muita animação ao ar livre, num ambiente bucólico e familiar, que convida a parar e a apreciar o que raramente não temos tempo – a mestria da natureza.

28.ª Exposição de Camélias do Porto

© Guilherme Costa Oliveira

28.ª Exposição de Camélias do Porto

© Guilherme Costa Oliveira

Existem centenas de cultivares de espécies de camélias e, na Invicta, têm residência permanente desde o século XIX nos jardins privados e públicos, como o Jardim Botânico, a Casa das Artes, o Parque Nova Sintra, a Quinta de Villar d’Allen, o Museu Nacional Soares dos Reis, o Parque de Serralves, a Quinta da Bonjóia, o Palacete Pinto Leite, entre tantos outros.


Conhecidas como japoneiras, rosas da China ou do Japão, fazem já parte do património natural e cultural da Invicta. Por esta razão, não será de estranhar que o Porto seja também conhecido como “a cidade das camélias”. Há quem viaje dos antípodas para apreciar espécies raras ou para testemunhar o período da sua profusa floração, que atinge o auge em pleno contraciclo primaveril (nas estações do outono e inverno). Para que a flor se materialize em todo o seu potencial, não basta deixar a natureza seguir o seu rumo. A perfeição e a exuberância não são apenas fruto do acaso ou do determinismo natural. Existem mãos e saberes que entram na equação, até porque é preciso mimar, cuidar, nutrir, podar e orientar o seu crescimento.

Entre camélias das espécies japonica, reticulata, sasanqua e sinensis, fomos ao encontro de Cristina Campos. Há 24 anos que é a principal cuidadora das mil e uma “flores de inverno” que crescem e florescem todos os anos no Parque de São Roque. Cristina e a restante equipa de jardineiros preservam e tratam meticulosamente da herança deixada por Jacinto de Matos (distinto jardineiro do Porto) – são, afinal, mais de 200 camélias que ainda hoje crescem frondosas naquele jardim de feição oitocentista.


Ali perto do mirante, da gruta e do caramanchão, junto à inconfundível Casa Amarela de São Roque, habitam espécies centenárias. Algumas já floresceram em outubro – “as primeiras a florir são as ‘sasanquas’, pequeninas e singelas”, clarifica Cristina. As outras vão abrir em todo o seu esplendor e bem a tempo de serem apreciadas aquando da grande exposição deste mês de março.

28.ª Exposição de Camélias do Porto

© Andreia Merca

28.ª Exposição de Camélias do Porto

© Andreia Merca

Cristina confessa-nos não ser versada nos nomes de batismo de algumas das suas “meninas” – “Viscondessa da Silva Monteiro”, “Clara Gil de Seabra”, “Augusto Leal de Gouveia Pinto”, “Marmorata”, “Duchesse de Nassau”, “Castilho, o Poeta” ou “Captain Rawes”. Os tecnicismos e características intrínsecas prefere deixar para quem sabe. Ela guarda o saber-fazer e o conhecimento empírico dos “humores” e dos “cuidados” que cada cameleira tem. “Temos aqui exemplares com 150 e 170 anos”, mas esta longevidade traz “muito trabalho e dedicação”, diz-nos com orgulho de cuidadora extremosa. “É preciso regá-las, precisam ser adubadas pelo menos duas vezes por ano e, depois da floração, têm de ser podadas.” É um trabalho constante até porque as camélias “não nos dão descanso, precisam de muitos miminhos”, conclui.


Das centenárias passámos para o “berçário”, onde surgem as primeiras camélias plantadas no ano passado. Neste espaço altaneiro, as vistas são desafogadas – de um lado está a pérgola de jacarandás e, em frente, o icónico labirinto natural de buxo comum. Ainda assim, estes dois ex-líbris do Parque de São Roque não ofuscam a muito aguardada promessa daquelas centenas de botões de camélias ‘bebés’ prestes a aprender a desabrochar.

Não resistimos perguntar à Cristina qual a sua favorita. Aponta para a cameleira com cerca de 200 anos que, em tantas tardes estivais, serve de sombra aos piqueniques familiares. “A ‘Taça Beleza’ é a minha camélia de eleição. Na sua estrutura e exuberância, consegue ser bela, pura e, ao mesmo tempo, singela e simples.” Aquando da Exposição de Camélias do Porto, a 2 e 3 de março, é provável que encontre Cristina e a equipa de jardineiros do parque municipal a zelar pelas suas “meninas” e pelas mais “centenárias”. Cuidados à parte, há que nutrir a promessa de que, para o ano, novas camélias voltem a renascer.

por Sara Oliveira

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