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Há 15 anos, um grupo de músicos do Porto decidiu transformar o cenário cultural da cidade. Unidos pela música e pela necessidade de criar um espaço de encontro e criação artística, fundaram a Associação Porta-Jazz. “Na altura, quem terminava o curso superior de jazz na ESMAE encontrava uma cidade bastante dispersa a nível cultural”, recorda João Pedro Brandão, um dos fundadores da associação e diretor do festival com o mesmo nome. “Havia a necessidade visceral de formar um núcleo, e foi isso que fizemos.”
O primeiro passo foi criar o Festival Porta-Jazz, que nasceu em 2010, com 13 concertos nas Galerias de Paris, envolvendo músicos e projetos locais. Mas a visão ia muito além de um evento pontual: “Queríamos um espaço físico que permitisse aos músicos criar, editar e apresentar, e que lhes desse um suporte que os incentivasse a permanecer na cidade”. Desde então, a Porta-Jazz construiu-se com esforço coletivo. O piano que está presente no espaço, por exemplo, foi adquirido através de concertos de angariações, de bilheteiras cedidas pelos músicos que acreditavam no projeto e queriam viabilizar o sonho.
© Inês Aleixo
O que começou como um grupo de 10 pessoas tornou-se uma comunidade de quase 60 membros ativos. São músicos que utilizam o espaço para ensaiar, criam parcerias e envolvem-se em cada detalhe, desde a receção de artistas até à organização de concertos. “Quando viemos para este espaço, depois da pandemia, houve uma nova geração de músicos que vinham aos nossos concertos já enquanto estudantes e que abraçaram o projeto, e isso foi a prova que este projeto faz sentido porque se renovou completamente em termos de pessoas envolvidas”, conta João Pedro.
A filosofia da Porta-Jazz é apoiar a criação independente e a diversidade estética. “Não temos uma direção artística fechada; é uma lógica de comunidade e de explorar a improvisação, composição em tempo real e outras linguagens”, diz. A associação já produziu mais de uma centena de edições discográficas, mostrando a sua evolução artística e a amplitude de abordagens musicais. “Como criamos parcerias com outras entidades, fazemos com que os projetos circulem; portanto, é uma teia que dá uma perspetiva artística aos músicos”, acrescenta.
© Inês Aleixo
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O Festival Porta-Jazz, que chega à 15ª edição este ano, é o reflexo da atividade da associação. “Funciona como uma montra do que aconteceu ao longo do ano. É quase um ‘best of’, com a maioria das edições discográficas que lançámos”, explica João Pedro. O evento cresceu e atrai cada vez mais público internacional, incluindo promotores, jornalistas e entusiastas do jazz. Decorre de 28 de janeiro a 2 de fevereiro em blocos de dois concertos seguidos de Jam Session.
O mote desta edição, “Contra o relógio, a favor do tempo”, celebra o percurso da associação e desafia o público a parar e ouvir música. “Vivemos uma urgência constante nas redes sociais, onde tudo é efémero. O festival convida as pessoas a sentarem-se e dedicarem tempo à música. Há uma componente comunitária fundamental para nós, tanto entre artistas como com o público.”
A programação inclui momentos únicos, como um ensemble comemorativo com mais de 20 músicos, a habitual encomenda anual, este ano a cargo da pianista, compositora e improvisadora eslovena Kaja Draksler, e concertos em vários espaços do TMP – Rivoli. Haverá ainda jam sessions diárias, um concerto interativo para crianças e famílias, e ainda uma novidade – um coro instantâneo. “Vai ser uma criação em tempo real com o público. A ideia é abrir barreiras em relação à voz e explorar novas possibilidades com quem nos visita”, destaca João Pedro.
Apesar de todo o reconhecimento artístico e da forte ligação com a cidade do Porto, o desafio de conseguir financiamento persiste. “Há um esforço enorme e muito voluntariado por parte de músicos profissionais. Gostava que, daqui a 15 anos, essa luta fosse mais tranquila e pudéssemos melhorar as condições de trabalho”, desabafa. Ainda assim, João Pedro Brandão mantém-se otimista sobre o impacto e a renovação contínua do projeto. “Nós fazemos parte da cidade, e a cidade somos nós todos. É um movimento vivo, que cresce, contamina e se reinventa.”
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Com uma programação rica e o espírito de comunidade que o caracteriza, o Festival Porta-Jazz celebra não apenas o tempo que passou, mas o que ainda está por vir. É um convite a todos para parar, ouvir música e viver o jazz na cidade. Programação completa em portajazz.com.
por Maria Bastos
© Inês Aleixo
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