“De que é que sou feito? É isso que marca a diferença entre bicho de mar e bicho de terra.” E entre humanos e não-humanos. É esse espaço entre uns e outros que as Leituras no Mosteiro nos convidam a habitar, prosseguindo a jornada pela dramaturgia portuguesa contemporânea. Afonso Molinar transporta-nos "Além dos Mares do Fim do Mundo" e constrói “uma memória a partir de memórias deixadas por outros”. Traz as fotografias e as lembranças do avô, o médico Augusto Boffa-Molinar, para as entrelaçar com as do médico-escritor Bernardo Santareno, das duríssimas viagens de ambos na frota bacalhoeira portuguesa, a bordo do navio-hospital Gil Eannes. “A solidão é um poço-vertigem, aberto no centro da alma.” Em "Distância de Segurança", Joana Magalhães leva-nos ao interior de uma baleia num monólogo em seis atos de uma taxidermista. Inspirado pelo desnorte entre as noções de próximo e distante que a pandemia acelerou, nele cabem a maré negra do "Prestige", a brancura de "Moby Dick", as histórias de Jonas e de Branca de Neve, ou uma praga de formigas. “Debaixo da terra estava o micélio, o cordão umbilical do mundo.” Os autores são os convidados da sessão.