A exemplo do projecto expositivo realizado no fim da época passada, surge agora o seu sucessor, In Between II.
Mantendo-se no formato de exposição coletiva bem como no seu conceito temporal de estabelecimento de “ponte” entre o final e o recomeço de época em Setembro, traz porém agora alguma novidade.
É quase fatal que quando nos entusiasmamos com um primeiro projeto que corre bem, esse mesmo entusiasmo nos leva a dar algo mais aos que se seguem. Vem isto a propósito da palavra que aparece como subtítulo desta mostra, “fascinum”. Esta palavra de etimologia latina cujo significado chegou até aos nossos dias como fascínio, encantamento, é porém algo mais que isso. Na Roma antiga os indivíduos eram extremamente dados a superstições, augúrios, venerando uma multidão de deuses, projetando-os terrenamente nas mais variadas formas ou suportes.
Um dos mais antigos, remontando aos primeiros reis de Roma, antes da república ou dos imperadores era o fascinus. Tratava-se de um deus protetor, arauto de presságios favoráveis e de poder. Nas suas habituais formas eram amuletos fálicos alados, em bronze ou até ouro, sendo os mais antigos passados pelos pais aos seus filhos, quando estes atingiam a maioridade, numa sequência geracional. Os mais valiosos e antigos fascinuns eram muito pretendidos pelo seu poder divino. A propósito conta-se que o exótico e sanguinário jovem imperador Cómodo, filho do Divino Marco Aurélio, se apoderou do amuleto dum herdeiro das mais antigas famílias patrícias, usando-o durante anos, protegendo-se assim de várias tentativas de assassinato e até da peste que assolou Roma (cidade pretensiosamente apelidada de “Comodiana”, durante o seu reinado). Mesmo assim acabou assassinado pela sua própria amante, Márcia, ao beber de um copo de vinho envenenado na piscina dos banhos da sua villa romana; a família patrícia recuperou o valioso amuleto após a sua morte, retomando assim a sequência transmissora.
De entre os muitos artistas expostos nesta segunda edição de In Between, surgem também outros cujas obras foram especialmente eleitas para dialogar com icónicos objetos ancestrais, num exercício de possíveis contaminações formais entre sujeitos. Estes novos “sujeitos”, por desta vez concomitantes, dispõem-se como chaves dum processo empiricamente definidor de possíveis metáforas subjacentes ao subtítulo da exposição (fascinum), contribuindo e incrementando para o seu todo. Experiencia-se assim, um potencial estimulador extensível ao estabelecimento de novas pontes, malhas e leituras para uma temporalidade maior, pela somada presença desses novos protagonistas.
A singela disponibilidade dos pequenos passos para um entendimento e possível “fascínio” pelos bens colecionáveis e a bondade na sua transmissão, é o desígnio maior dos projetos In-Between.