As pinturas de Dejan Dukic abraçam a abstração e a experimentação material, esbatendo a fronteira entre controlo e acaso. Em vez de aplicar a tinta na frente da tela, ele trabalha a partir do verso, empurrando o pigmento através das fibras e permitindo que este emerja organicamente. Esta inversão rompe com a noção tradicional da pintura como uma janela
para outro mundo, enfatizando, em vez disso, a fisicalidade do próprio meio. O seu processo remete para os cortes radicais de Lucio Fontana, mas substitui a violência pela fluidez, à medida que a tinta a óleo se infiltra, se acumula e forma texturas imprevisíveis. Influenciado por teorias sobre a agência não-humana, Dukic abdica do domínio artístico, deixando que o
material dite a sua própria forma. O seu trabalho ressoa com debates históricos sobre a tactilidade na arte, desde a rejeição da supremacia visual por Anni Albers até às reflexões de Amy Sillman sobre o peso sensorial dos pigmentos.
Numa era digital que nos distancia da experiência física, as pinturas de Dukic reafirmam a importância do toque, da presença material e da coabitação artística com o mundo. A sua inversão subtil, mas radical, desafia a hierarquia tradicional da pintura, privilegiando o jogo, a
experimentação e uma ética de desapego.
— Excerto do texto ‘Inversion’, de Àngels Miralda, 2019.