Conversa entre a cineasta e artista Aya Koretzky e a historiadora de cinema Raquel Schefer em torno da exposição Time Takes a Cigarette, em exibição no Espaço MIRA.
Abordar-se-à, em diálogo com o público, o processo de produção da exposição e situar-se-à esta vídeo instalação imersiva na obra de Aya Koretzky.
A conversa decorre no dia 19 de outubro, pelas 17h, no Espaço MIRA.
Sobre a exposição:
Time Takes a Cigarette, vídeo instalação imersiva de Aya Koretzky, tem como ponto de partida a curta-metragem homónima realizada pela cineasta em 2023. O título retoma um verso da primeira estrofe da canção Rock ‘n’ Roll Suicide, tema do álbum The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, lançado por David Bowie em 1972: Time takes a cigarette, puts it in your mouth / You pull on your finger / Then another finger, then cigarette / The wall-to-wall is calling / It lingers, then you forget. Se o título evoca um contexto histórico-cultural preciso — a cena musical europeia dos anos setenta, aqui abordada a partir dos seus prolongamentos na cidade do Porto —, a citação da estrofe de Rock ‘n’ Roll Suicide introduz, desde logo, certos pressupostos conceptuais da instalação, que adquirem expressão nas suas formas e estruturas. A obra aborda duplamente a reconstituição como modalidade de representação da história e da memória, colocando em tensão o passado e o presente. Noutras palavras, se, a nível interno, narrativo, Time Takes a Cigarette reconstitui no presente instantes fugidios da cena punk do Porto das décadas de setenta e oitenta registados fotograficamente, instantâneas de um tempo pretérito, a estrutura e os elementos expositivos recriam o ambiente dos clubes nocturnos daquele período histórico, oferecendo à espectadora uma experiência fenomenológica e performativa. Situando-se sobre o pano de fundo das grandes transformações da sociedade portuguesa que tiveram lugar a partir da Revolução de 1974-1975, Time Takes a Cigarette opõe-se a toda concepção estática da história. Trabalha, inversamente, a partir de um princípio de trânsito e impermanência, que se traduz na circulação da visitante pelo espaço expositivo, procurando no presente não os vestígios, mas as actualizações do passado. Deste modo, a instalação não só inscreve a história da contra-cultura juvenil do Porto no espaço da representação, como perscruta e inventaria também os seus paralelismos e declinações actuais.
(Raquel Schefer)