Estou deitada na sala da casa da minha avó, são onze da manhã ou três da tarde, não sei dizer as horas com precisão pois todo o apartamento está mergulhado numa eterna e sonolenta penumbra. Minha respiração está lenta, é quente e úmido o ar deste apartamento grande e esvaziado. Tantos móveis sumiram desde a última vez que estive cá. Imagino se não foram comidos por cupins, uma comunidade devorando outra, imagino seu cupinzeiro a crescer e prosperar às custas da nossa ruína — posso adormecer a qualquer momento. Com os olhos semicerrados observo as linhas do teto. Quanto mais tento me concentrar nos detalhes em gesso, menos consigo perceber a nitidez dos relevos, algo vibra na penumbra, será um ninho de vespas?