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A revolução portuguesa de 1974 é a última revolução “moderna” na Europa Ocidental (a queda do Muro de Berlim, na minha opinião, já pertence a uma modalidade diferente). Na verdade, uma revolução política moderna é aquela que conduz a uma mudança radical de regime. A partir daí, a revolução no Ocidente passa a ser apresentada principalmente como “transição” – como desenvolvimento, modernização, inovação no sentido do progresso tecnológico mais do que social ou político – e não como convulsão, um derrube da ordem existente. António Gramsci descreveu este movimento “de cima para baixo” como “revolução passiva”. Não é de todo coincidência que a revolução portuguesa tenha ocorrido na época dos movimentos sociais das décadas de 1960 e 1970 e no final da fase de desenvolvimento económico e, ao mesmo tempo, social, conhecida como os “Gloriosos Anos 30”. Foi precisamente em meados dos anos 70 que se lançaram as bases para a hegemonia do neoliberalismo e do modo de produção pós-fordista, como uma combinação de conservação e progresso. Em suma, a era em que a revolução política era portadora de progresso e a conservação era a reação a esta força motriz da história, chegou ao fim. O desejo de um mundo e de uma sociedade radicalmente diferentes cede lugar ao medo de perder posições adquiridas individualmente. É então a economia, como administração da ordem, que converte permanentemente este desejo em necessidades que só podem ser satisfeitas dentro desta ordem, desde que não sejam dadas alternativas. Se a economia neoliberal das necessidades está a espalhar cada vez mais paixões tristes nos países ocidentais, o desejo de um mundo e de uma vida alternativos assume as características ameaçadoras da catástrofe, do fim iminente – de crise em crise – do mundo em que vivemos. Como é que este medo se pode transformar em entusiasmo, a ansiedade da catástrofe em desejo de revolução?
Dario Gentili (Nápoles, 1975) é Professor Associado de Filosofia Moral no Departamento de Filosofia, Comunicação e Artes do Espetáculo da Università Roma Tre. É codiretor do Mestrado “Humanidades Ambientais – Estudos do Ambiente e do Território”. Dedica-se ao pensamento italiano contemporâneo; à espacialidade no pensamento político, jurídico e arquitetónico ocidental; à genealogia e à crítica do neoliberalismo e dos seus dispositivos. É autor de ensaios publicados em várias línguas. Escreveu as seguintes monografias: Il tempo della storia. Le tesi “sul concetto di storia” di Walter Benjamin (2002; 2019); Topografie politiche. Spazio urbano, cittadinanza, confini in Walter Benjamin e Jacques Derrida (2009); Teoria italiana. Dall’operaismo alla biopolitica (2012); Crisi come arte di governo (2018; 2022), traduzido para alemão, inglês e espanhol.
Tradução simultânea PT/EN e EN/PT
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A revolução portuguesa de 1974 é a última revolução “moderna” na Europa Ocidental (a queda do Muro de Berlim, na minha opinião, já pertence a uma modalidade diferente). Na verdade, uma revolução política moderna é aquela que conduz a uma mudança radical de regime. A partir daí, a revolução no Ocidente passa a ser apresentada principalmente como “transição” – como desenvolvimento, modernização, inovação no sentido do progresso tecnológico mais do que social ou político – e não como convulsão, um derrube da ordem existente. António Gramsci descreveu este movimento “de cima para baixo” como “revolução passiva”. Não é de todo coincidência que a revolução portuguesa tenha ocorrido na época dos movimentos sociais das décadas de 1960 e 1970 e no final da fase de desenvolvimento económico e, ao mesmo tempo, social, conhecida como os “Gloriosos Anos 30”. Foi precisamente em meados dos anos 70 que se lançaram as bases para a hegemonia do neoliberalismo e do modo de produção pós-fordista, como uma combinação de conservação e progresso. Em suma, a era em que a revolução política era portadora de progresso e a conservação era a reação a esta força motriz da história, chegou ao fim. O desejo de um mundo e de uma sociedade radicalmente diferentes cede lugar ao medo de perder posições adquiridas individualmente. É então a economia, como administração da ordem, que converte permanentemente este desejo em necessidades que só podem ser satisfeitas dentro desta ordem, desde que não sejam dadas alternativas. Se a economia neoliberal das necessidades está a espalhar cada vez mais paixões tristes nos países ocidentais, o desejo de um mundo e de uma vida alternativos assume as características ameaçadoras da catástrofe, do fim iminente – de crise em crise – do mundo em que vivemos. Como é que este medo se pode transformar em entusiasmo, a ansiedade da catástrofe em desejo de revolução?
Dario Gentili (Nápoles, 1975) é Professor Associado de Filosofia Moral no Departamento de Filosofia, Comunicação e Artes do Espetáculo da Università Roma Tre. É codiretor do Mestrado “Humanidades Ambientais – Estudos do Ambiente e do Território”. Dedica-se ao pensamento italiano contemporâneo; à espacialidade no pensamento político, jurídico e arquitetónico ocidental; à genealogia e à crítica do neoliberalismo e dos seus dispositivos. É autor de ensaios publicados em várias línguas. Escreveu as seguintes monografias: Il tempo della storia. Le tesi “sul concetto di storia” di Walter Benjamin (2002; 2019); Topografie politiche. Spazio urbano, cittadinanza, confini in Walter Benjamin e Jacques Derrida (2009); Teoria italiana. Dall’operaismo alla biopolitica (2012); Crisi come arte di governo (2018; 2022), traduzido para alemão, inglês e espanhol.
Tradução simultânea PT/EN e EN/PT
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