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"Nasci em 1974, já depois da Revolução de Abril. Quando era pequeno, fui ouvindo muitos relatos de compatriotas que tinham deixado as colónias logo após as independências, vindo viver para Portugal. A essas pessoas chamava-se, na altura, retornados e contavam muitas histórias sobre a sua vida em África, com um misto da saudade e da tristeza de quem tinha deixado para trás o Paraíso. Falavam da simpatia do africano, dos animais, do contacto estreito com a natureza, da sua animada vida social, da beleza sumptuosa das paisagens e da riqueza daquelas terras. Os meus ouvidos despertos e curiosos de criança absorviam não só o que era relatado mas também a forma encantatória e deslumbrada como tudo era descrito e, assim, a minha imaginação começou a cultivar um fascínio e um interesse pelo continente negro que até hoje me acompanham.
Numa das minhas muitas pesquisas e leituras acerca da história e das culturas do continente, cheguei ao conhecimento da Négritude, um movimento literário francófono que, no devir do tempo, também chegou a assumir-se como breve projecto político e cultural.
Liderado por figuras como o poeta martinicano Aimé Césaire e o escritor e político senegalês Léopold Sédar Senghor, a Négritude procurava valorizar e exaltar os valores culturais das populações negras que tinham sofrido com o colonialismo francês, tanto em África como nas Antilhas.
Parecendo-me o conceito tão justo quanto pertinente, ocorreu-me a ideia de o estender da literatura para a minha forma de expressão, a música para guitarra clássica, e da francofonia para uma geografia mais extensa e diversificada. Uma das condicionantes que este projecto encerra é o facto de a cultura da África Negra ser baseada sobretudo na oralidade, o que dificultou a procura de partituras com as quais o reportório pudesse constituir-se. Juntando composições originais, transcrições e mesmo um conjunto de pequenas peças por mim compostas propositadamente para integrar este programa, tomou forma o recital que agora apresento e partilho. Aos ouvintes, lanço o desafio de tentarem discernir se existe de facto um sentir negro, uma forma própria de criar e de viver a música que confira alguma unidade a todas estas peças.", por João Durão Machado
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"Nasci em 1974, já depois da Revolução de Abril. Quando era pequeno, fui ouvindo muitos relatos de compatriotas que tinham deixado as colónias logo após as independências, vindo viver para Portugal. A essas pessoas chamava-se, na altura, retornados e contavam muitas histórias sobre a sua vida em África, com um misto da saudade e da tristeza de quem tinha deixado para trás o Paraíso. Falavam da simpatia do africano, dos animais, do contacto estreito com a natureza, da sua animada vida social, da beleza sumptuosa das paisagens e da riqueza daquelas terras. Os meus ouvidos despertos e curiosos de criança absorviam não só o que era relatado mas também a forma encantatória e deslumbrada como tudo era descrito e, assim, a minha imaginação começou a cultivar um fascínio e um interesse pelo continente negro que até hoje me acompanham.
Numa das minhas muitas pesquisas e leituras acerca da história e das culturas do continente, cheguei ao conhecimento da Négritude, um movimento literário francófono que, no devir do tempo, também chegou a assumir-se como breve projecto político e cultural.
Liderado por figuras como o poeta martinicano Aimé Césaire e o escritor e político senegalês Léopold Sédar Senghor, a Négritude procurava valorizar e exaltar os valores culturais das populações negras que tinham sofrido com o colonialismo francês, tanto em África como nas Antilhas.
Parecendo-me o conceito tão justo quanto pertinente, ocorreu-me a ideia de o estender da literatura para a minha forma de expressão, a música para guitarra clássica, e da francofonia para uma geografia mais extensa e diversificada. Uma das condicionantes que este projecto encerra é o facto de a cultura da África Negra ser baseada sobretudo na oralidade, o que dificultou a procura de partituras com as quais o reportório pudesse constituir-se. Juntando composições originais, transcrições e mesmo um conjunto de pequenas peças por mim compostas propositadamente para integrar este programa, tomou forma o recital que agora apresento e partilho. Aos ouvintes, lanço o desafio de tentarem discernir se existe de facto um sentir negro, uma forma própria de criar e de viver a música que confira alguma unidade a todas estas peças.", por João Durão Machado
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